TECNOLOGIA AGRÍCOLA

PARA

EXPLORAÇÃO E MANEJO

CULTURAL

DA

CANA-DE-AÇÚCAR

 

 

 

Exploração e Manejo da Lavoura da Cana-de-Açúcar

 

Definição das práticas agrícolas a serem realizadas nas áreas cultivadas com cana-de-açúcar

 

 

PARTE 1.

 

 

PREPARO DE SOLO

 

 

 

 

 

 

 

 

Luiz Carlos Miller (1)

Araras, 25 de agosto de 2008.

 

1.    PREPARO DE SOLO

 

A grande extensão de terra ocupada com a cultura da cana-de-açúcar e as características regionais adotadas para a exploração da terra faz com que as técnicas para o preparo de solo apresentem diferentes combinações entre operações, máquinas e implementos. 

Assim, ainda que na prática a seqüência operacional se apresente mais ou menos similar nas diferentes atividades de preparo do solo para a implantação da cultura da cana, o ideal seria a utilização de diferentes sistemas de preparo que pudessem ser aplicados a cada uma das diferentes condições edáficas das áreas cultivadas com a cultura. Este pressuposto sustenta-se no princípio de que os solos onde a cultura pode ser instalada apresentam grande heterogeneidade na sua textura, profundidade e topografia, e que diferentes culturas podem ser exploradas juntamente com o cultivo da cana em forma de rotação.

Um outro importante fator a condicionar estes sistemas de preparo do solo (facilitando uma maior homogeneização técnica) para o plantio da cultura da cana-de-açúcar está relacionado com a intensificação da mecanização da colheita. Ela tem direcionado os novos plantios para regiões topograficamente mais uniforme e plana, deixando de crescer nas regiões mais antigas, que apresentam relevos relativamente acidentados nas áreas plantadas com a cultura. Na verdade, estas são regiões de longa tradição no cultivo da cana e caso continuem sendo exploradas com a cultura, já que estarão expostas a diversas limitações operacionais e legais, a sua preparação e mais especificamente a colheita da cana ali produzida terão que ser também tratadas com técnicas que contemplem as suas limitações naturais.

Ainda que sistemas diferenciados de preparo de solo devessem ser aplicados a diferentes ambientes de produção, o fato é que a seqüência operacional para a preparação dos solos apresenta pequenas variações entre as diferentes regiões cultivadas com cana.

Em áreas já cultivadas com cana e com plena condição de mecanização da colheita, o preparo do solo pode ser conduzido tanto na forma convencional ou com o mínimo cultivo. A utilização do cultivo das soqueiras como forma de facilitar a incorporação do fertilizante no solo e deixar o terreno em condições favoráveis para a aplicação de herbicidas em locais com ausência de palha deixa o solo mais propício para a preparação. Contudo, a colheita mecânica de cana integral exigirá cuidados mais intensos para com a preparação, já que a palha permanecerá sobre o solo, o cultivo da soqueira será menos intenso e certamente os níveis de compactação assumirão patamares mais elevados.

O Processo de Preparo do Solo tem como finalidade deixar o terreno pronto e propício para que a atividade seguinte da cadeia produtiva – Processo Plantio – seja realizado. Compreende atividades normalmente realizadas segundo uma seqüência operacional, algumas vezes, bastante padronizadas. Algumas atividades, dentre aquelas realizadas neste processo, podem ser desenvolvidas com mais qualidade, quando conduzidas dentro de padrões operacionais que sejam sustentados por maiores níveis de fundamentação tecnológica.

Isto acontece quando as ações para a realização destas atividades são sustentadas por informações específicas, obtidas através de tecnologias de suporte. Assim, as decisões sobre o uso de corretivos para a melhoria do solo (amostragem de solos e definições para o uso de calcário e ou gesso e fertilizantes), o uso da subsolagem para melhorar as propriedades físicas do solo (avaliação da compactação do solo) e a avaliação da sanidade do solo (avaliação dos níveis de infestação das pragas de solo e utilização de defensivos) podem ser tomadas utilizando-se de procedimentos amostrais e análises tecnológicas de grande simplicidade e elevada objetividade.

Estas informações, quando utilizadas de forma adequada, dão sustentação para as tomadas de decisões e favorecem a racionalização no uso de recursos durante as operações de preparo de solo, tornando-os mais eficientes na sua atuação e com resultados econômicos mais consistentes como conseqüência de sua aplicação.

1.1.        SEQÜÊNCIA O PERACIONAL

 

As atividades desenvolvidas durante o processo de preparação do solo são dispostas numa seqüência, de forma a criar no solo condições físicas e químicas que atendam às necessidades da cultura da cana-de-açúcar.

Esta ordenação obedece a uma  seqüência com alternativas para possibilitar pelo menos duas diferentes modalidades de preparo de solo: o preparo de solo convencional e o preparo de solo com cultivo mínimo. Em qualquer das duas modalidades poderá ser utilizado alternativas operacionais, algumas vezes excludentes com relação à seqüência  genérica, para dar forma à seqüência operacional desejada pelo usuário. Estas seqüências operacionais, com pelo menos duas alternativas, estão expostas no fluxograma constante da figura 1.1.a. 

Uma característica permanente e definitiva do solo é a sua textura, que descreve o tamanho das partículas que o constituem e que praticamente não pode ser alterada. Os arranjos texturais têm forte interferência sobre os indicadores de qualidade do preparo de solo. Desta forma, questões como número de vezes que uma ação deve ser executada, a profundidade de operação e os níveis de umidade presentes momento de realização das operações pode variar com razoável intensidade, dependendo da categoria textural do solo a ser trabalhado. Por outro lado, a estrutura, caracterizada pela forma como tais partículas se agregam entre si são menos estáveis. Elas podem se alteradas em decorrência do tipo de utilização do solo, da variação do conteúdo de matéria orgânica e do tipo de trafego aplicado sobre a superfície do terreno.

A eleição da modalidade de preparo de solo sempre estará condicionada às condições do solo e de sua susceptibilidade aos danos causados pela compactação e pela erosão. A escolha do tipo de preparação será uma  conseqüência da característica mostrada pelo solo de cada uma dos locais onde ocorrerá a preparação. O direcionamento do preparo de solo convencional abrangeria preferencialmente os solos com maiores níveis de agregação, com maiores teores de argila e que demonstrassem facilidade para a compactação. Em contrapartida, o preparo do solo utilizando-se o cultivo mínimo seria direcionado para solos mais soltos, onde a sulcação seria facilitada sem que tivessem a necessidade de serem movimentados através de equipamentos promovessem revolvimento do solo anteriormente.

As atividades são compostas por tarefas e operações que serão descritas e discutidas a seguir.

 

Figura 1.1.a - Fluxograma da seqüência operacional do Processo Preparo de Solo, com o encadeamento das principais atividades tradicionalmente aplicadas na cultura da cana-de-açúcar.

 

1.1.1. Desmatamento e Limpeza do Terreno (1.1. na figura 1.1.a): Quando os terrenos contratados para o plantio de lavouras de cana-de-açúcar estão ocupados com matas nativas ou artificiais é necessário promover a remoção da vegetação deixando o terreno limpo, em condições apropriadas para a implantação da cultura.

Nas regiões, onde tradicionalmente se cultivam lavouras de cana-de-açúcar, esta atividade é executada com grande freqüência em terrenos cultivados com florestas artificiais, plantadas com espécies florestais destinadas à industrialização da madeira, tendo como destino a construção civil, a produção de celulose ou a produção de energia (eucaliptus, pinus, etc.). Quando o direcionamento da exploração da cultura  são as regiões de fronteira agrícola este trabalho será realizado em terrenos com vegetação natural (cerrado, cerrado fechado, mata, etc.).

Para cada uma destas situações serão diferentes os tipos de máquinas e equipamentos recomendados para a realização das tarefas e operações desta atividade. Elas dependerão do porte da vegetação e da condição do material vegetal encontrado no terreno da propriedade contratada para o plantio da lavoura de cana. Na grande maioria das vezes, esta atividade consiste apenas em arrancar os tocos deixados após a retirada anterior de madeira. Independentemente do estágio em que se encontrar a vegetação no local, os restos vegetais terão que ser retirados do meio do terreno para a realização das operações seguintes (a preparação completa do solo) necessárias para o preparo da área para o plantio da cana.

Após serem arrancados do solo, estes restos vegetais deverão ser retirados do terreno. O procedimento mais usual, quando o fogo não é aplicado para a redução da quantidade de massa vegetal, consiste em empurrar os restos vegetais para leiras, normalmente marcadas em nível e dispostas no terreno a distâncias que facilitem o trabalho das máquinas. Para que as condições físicas originais do solo não sejam deterioradas por processos erosivos em razão da atuação do clima, estas leiras devem ser construídas respeitando as direções da declividade do terreno.

Se o desnível do terreno justificar a sua marcação em nível, assim deverá ser feito. Procedendo desta forma, toda a estrutura de conservação do solo será favorecida e a proteção do terreno contra a erosão ficará garantida. Após o aleiramento da parte mais grosseira será necessário recolher manualmente os restos menores e pedaços de raízes que escaparem dos equipamentos utilizados para a limpeza do terreno.

 

a) Equipamentos para Realização das Operações

 

Os trabalhos de limpeza do terreno são realizados com tratores de elevada potência, movidos sobre esteiras, tracionando implementos de diferentes configurações e portes. Para desmatar e limpar áreas com vegetação fraca, como áreas de cerrado ralo, se podem utilizar tratores de menor potência, sejam eles equipados com esteiras ou com pneus (menos recomendados em razão da fragilidade dos pneus) como material rodante. Para a derrubada de matas mais fechadas podem ser utilizados tratores com esteira, puxando correntões (fig. 1.1.1.a) ou lâminas frontais (fig. 1.1.1.b).

 

1.1.1.a -

Foto 1.1.1.a – Trator de esteiras em trabalho de limpeza de terreno com correntões.

 

1.1.1.b -

Foto 1.1.1.b – Trator de esteiras e lâmina limpando terreno com mata.

 

Quando o trabalho é destinado a arrancar os tocos deixados em terrenos onde a floresta foi colhida, utiliza-se de apenas tratores com  esteiras, equipados com lâminas frontais (fig. 1.1.1.b). Dependendo do tipo de solo e da maneira como está plantada a mata anteriormente existente na área, podem ser utilizados outros equipamentos, como retro-escavadeiras, com a finalidade de limpar o terreno. Ela arranca o resto da vegetação, e tapa o buraco resultando da retirada do toco. Quando o material é arrancado com tratores de esteira, faz-se o aleiramento dos restos vegetais utilizando-se lâminas vazadas desenraizadoras (figs. 1.1.1.c e 1.1.1.d), cuja função é arrastar apenas os restos vegetais da limpeza do terreno. Dependendo da quantidade de material, ao invés de aleirar, ele poderá ser enterrado a profundidades que não comprometam as operações agrícolas.

 

1.1.1.c

Figura 1.1.1.c – Formas de aleiramento do mato arrancado.

 

1.1.1.d1

1.1.1.d2

Foto 1.1.1.d1 – Operação do trator. 

1.1.1.d2 – Equipamento utilizado para a realização do trabalho e aleiramento.

 

Qualquer que seja a condição da área contratada, bruta ou área anteriormente cultivada com outras culturas, a calagem deve ser uma atividade imprescindível para a correção do solo, caso as suas condições químicas assim o determinem.

 

1.1.2. APLICAÇÃO DE CALCÁRIO (1.2. na figura 1.1.a): Os solos destinados ao uso agrícola, de forma geral necessitam ajustes em seus conteúdos químicos, para que possam favorecer o desenvolvimento das plantas neles cultivadas. Tais ajustes variam conforme as demandas das culturas.  Contudo, estas interferências na composição química dos solos serão sempre necessárias para que os mesmos possam evidenciar a sua plena potencialidade produtiva, tendo como referência as culturas neles semeadas. Estes conteúdos químicos estão relacionados basicamente com as características dos solos no que diz respeito ao seu caráter de acidez (pH), aos valores de fósforo, potássio, cálcio, magnésio e alumínio e aos micronutrientes, estes especialmente em terras onde se está iniciando uma exploração agrícola.

Neste tópico estaremos abordando a correção dos solos, já que a maioria dos solos brasileiros apresenta-se com caráter ácido, pobres em cálcio e magnésio, podendo apresentar teores de alumínio, que dependendo do nível no solo, podem interferir negativamente sobre o crescimento radicular.

 

1.1.2.1. ROTINAS PARA A RECOMENDAÇÃO DE CALCÁRIO: A recomendação de calcário ou de gesso é realizada com base em dados dos conteúdos químicos dos solos. Para conhecê-los é necessário coletar amostras dos solos dos terrenos onde se efetuará o trabalho de correção, tendo como referencia a cultura que será plantada no local.

Nos tópicos a seguir estão descritas sugestões para procedimentos de amostragem de solos e de recomendações para as aplicações de calcário e, caso seja necessário corrigir alumínio em profundidade, de gesso. 

 

1.1.2.1.1. Procedimentos para a Amostragem de Solos

 

Como visto, as quantidades de calcário e ou gesso a serem utilizadas  para a correção e ou condicionamento dos solos, devem ser determinadas com base em conteúdos químicos apresentados pelos solos destinados ao plantio dos canaviais. Para obter-se essa informação é necessário primeiramente proceder-se à amostragem de solo nas áreas a serem plantadas e encaminhar o material coletado par um laboratório  confiável de análise de solo, seguindo os passos ilustrados através do fluxograma contido na figura 1.1.2.1.1.a..

 

Figura 1.1.2.1.1.a.- Procedimentos para a amostragem de solo no campo e envio para análise química em laboratório de solos.

 

A coleta das amostras de solo deve ser realizada com vários meses de antecedência (conforme estabelecido no fluxograma da figura 1.1.2.1.1.a., com tempo suficiente para aplicar os corretivos de solo entre 90 a 100 dias antes da realização do plantio), independentemente do tipo de cultura que se pretenda trabalhar, sejam elas culturas anuais, semiperenes ou perenes. Isto porque, recomenda-se que a aplicação dos produtos corretivos e ou condicionadores de solo escolhidos  seja realizada antes das operações de preparo de solo, mais especificamente da primeira gradagem pesada.

Os procedimentos para coletar as amostras dependem do tipo de cultura, sendo específicos para cada hábito de desenvolvimento. Entretanto, independentemente da modalidade de cultivo e dos procedimentos cuidadosos para a coleta do solo no campo, serão os dados da composição química observada nas análises de solo as referências para a recomendação dos corretivos.

O tempo precedente também é importante, pois os dados precisam estar disponíveis com grande antecedência. Eles serão a base para a definição das quantidades a serem aplicadas e a informação para a agilização das decisões sobre o suprimento do material recomendado. Desta forma, fica garantido as quantidades a serem aplicadas, cuja finalidade será ajustar as condições dos solos às necessidades nutricionais das espécies cultivadas.

Os procedimentos para a realização das amostragens de solos estão discriminados no tópico referente a este tema encontrado no endereço www.sigacana.com.br. Os principais e mais utilizados procedimentos laboratoriais para a extração dos elementos das partículas do solo, para determinação dos conteúdos dos principais elementos químicos do solo, estão descritos no quadro 1.1.2.1.1.a..

Como observado, os procedimentos analíticos utilizam-se de diferentes tipos de extratores. A cada tipo de extrator utilizado corresponderá uma quantidade de elemento determinado na análise química de um determinado solo. Estas diferentes quantidades serão uma conseqüência da intensidade de atuação especifica da cada extrator sobre as partículas do solo para liberar os elementos químicos do complexo orgânico e mineral do solo. Dependendo da intensidade de atuação que cada um deles apresentar, ao reagir com o complexo coloidal do solo, diferentes quantidades de cada elemento químico serão determinadas nos procedimentos químicos adotados.

Contudo, isto não significa necessariamente uma maior quantidade do elemento presente no solo e automaticamente disponível para as plantas. Significa que o extrator utilizado, ao reagir com maior intensidade com os componentes do solo, pode ampliar a liberação de frações de um determinado elemento que estivesse mais intensamente ligado aos colóides do solo. Isto é particularmente verdadeiro quando se está discutindo a determinação de fósforo. Diferentes extratores mostram diferentes quantidades do elemento em uma mesma amostra de solo. Entretanto, a recomendação de quantidades a serem utilizadas de fertilizantes será função de avaliações experimentais que darão origem a curvas de calibração, segundo as quais estimam-se os níveis de resposta para cada nível do elemento no solo.

Portanto, a escolha de extrator deve estar muito alinhada com os procedimentos experimentais e as rotinas de recomendação adotadas na recomendação do fertilizante. Caso isto não ocorra, poderão ocorrer grandes confusões, que venham a comprometer o fornecimento de nutrientes às plantas. A alteração promovida no tipo de extrator utilizado deve ser de conhecimento prévio da parte do responsável pela sua recomendação, pois o desconhecimento desta alteração poderá  confundir o técnico durante o trabalho de recomendação das necessidades de fertilizantes. Desta feita, é necessário estar atento ao tipo de extrator utilizado para a determinação de um determinado elemento (especialmente fósforo que é mais sensível) e conhecer as curvas de calibração de respostas das plantas para cada elemento químico.

Esse cuidado deve fazer parte das rotinas de recomendação, uma vez que os laboratórios costumam adotar diferentes extratores dependendo da região onde estão localizados. Isto não significa que se tenha de utilizar sempre os padrões locais (região onde se encontra o empreendimento), já que estes laboratórios estão sempre habilitados a executar análises de solo conforme solicitação do cliente. Porém é importante estar atento, pois os dados experimentais da região onde está localizada a empresa de exploração agrícola certamente estarão referenciados aos procedimentos analíticos adotados tradicionalmente nas regiões onde estão localizadas as lavouras.

O quadro 1.1.2.1.1.a. mostra os diferentes procedimentos analíticos adotados pelas principais instituições de pesquisa e desenvolvimento agrícola. Estas metodologias utilizadas para a realização de análises de solos nas diversas regiões agrícolas do Brasil estão sempre associadas a tabelas de recomendação, obtidas através da experimentação agrícola e disponibilizadas pelas instituições para uso dos agricultores.

 

Quadro 1.1.2.1.1.a - Extratores utilizados para a disponibilização dos elementos nas soluções para as determinações químicas.

Tipos de Análises

Macronutrientes

Extrator (2)

pH em H2O

H2O

pH em CaCl2 0,01M

CaCl2 0,01M

C - (Carbono)

Walkey Black

P - (Fósforo)

Mehlich I (a)

K+ - (Potássio)

Mehlich I

Ca2+ - (Cálcio)

KCl 1N

Mg2+ - (Magnésio)

KCl 1N

Al3+- (Alumínio)

KCl 1N

H+ + Al3+- (Hidrogênio + Alumínio)

PH SMP

S - SO4 - (Enxofre)

Ca(H2PO4).H2O

Micronutrientes

Extrator (3)

Cu - (Cobre)

Mehlich I (a)

Zn - (Zinco)

Mehlich I (a)

Fe - (Ferro)

Mehlich I (a)

Mn - (Manganês)

Mehlich I (a)

Granulometria

Extrator

Areias

NaOH

Argila

NaOH

Silte

NaOH

OBS. 1. Recomendações sugeridas pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias - EMBRAPA, como   rotina para os laboratórios localizados nas regiões de sua atuação.

OBS. 2a. No Estado de São Paulo o IAC sugere a extração do fósforo através do Método da Resina e na Região Nordeste também se costuma fazer estas determinações com o extrator Mehlich I (HCl 0,05 N + H2SO4 0,025 N).

OBS. 3a. No Estado de São Paulo, estes micronutrientes são extraídos através da solução complexante DTPA, conforme sugestão do IAC.

 

1.1.2.1.2. Procedimentos para a Definição das Quantidades de Corretivo.

 

Os dados recebidos dos laboratoriais, contendo valores relativos às amostras de solos enviadas para a análise devem ser primeiramente organizados, registrados, e em seguida utilizados para a elaboração das recomendações das quantidades de corretivos, especificando as dosagens para cada uma das áreas destinadas ao plantio da cana. Estas recomendações podem ser efetuadas utilizando-se de diversos os métodos para a definição das quantidades a serem aplicadas e o usuário pode escolher dentre eles os que melhor atender às suas concepções técnicas para a correção do solo. Os procedimentos para definições das necessidades de calcário ou gesso estão estruturados no fluxograma da figura 1.1.2.1.2.a.. 

 

  Figura 1.1.2.1.2.a. – Fluxo das ações a serem adotadas para a definição das necessidades de calcário para a correção do solo. O mesmo fluxo retrata o procedimento para a recomendação de gesso.

 

A correção do solo utilizando-se apenas o calcário atende primordialmente a camada de 0-30cm de profundidade. Quando as condições do solo nas camadas sub-superficiais (30/60cm) encontram-se comprometidas por elevados teores de alumínio livre (Al+3) recomenda-se avaliar o uso de gesso como elemento corretivo para atuar sobre esse elemento. A presença excessiva do Al+3 constitui um fator limitante para o crescimento das raízes e conseqüentemente para o desenvolvimento das plantas cultivadas nestes solos. Quando for constatado que o alumínio apresenta-se como elemento nocivo para a planta nesta parte do solo, as necessidades de gesso para auxiliar na adequação da fertilidade do solo serão calculadas segundo metodologias específicas para efetivar a sua recomendação. Neste caso, o gesso poderá ser aplicado depois de misturado ao calcário com uma pá carregadeira no próprio campo.  

 

1.1.2.1.3. Métodos para a Recomendação de Corretivos e Condicionadores de Solo

 

A. Métodos para Recomendação de Calagem

 

O método da Saturação em Bases apresenta maior difusão no meio agronômico para a recomendação de calagem. A equação que define as necessidades de calcário (NC) está apresentada a seguir e oferece o resultado em t/ha:

 

NC= [CTC x (V2 - V1)]/PRNT,

            

Da forma como está apresentada acima, a equação atende unidades expressas em e.mg/(100ml, 100cm3 ou 100g) ou em cmolc /dm3. Quando a unidade de expressão do resultado da CTC estiver em mmolc /dm3 será necessário multiplicar o valor de PRNT por 10, ficando então: 

 

(NC= [CTC x (V2 - V1)]/10*PRNT),

onde:

NC= Necessidade de Calcário;

CTC= do solo (deve-se ter atenção para a unidade utilizada para a expressão dos valores das análises químicas do solo);

V2= Saturação de bases esperada após a correção, específico para grupos de culturas e para o caso da cana 60%;

V1= Saturação de bases observada nas análises de solos.

             

Uma outra variante da formula da Saturação de Bases, também utilizada para se calcular a necessidades de calcário toma como base os valores determinados para o complexo de trocas do solo (S (soma de Bases e CTC (Capacidade de Troca Catiônica) e os valores de Saturação (V%) que se deseja atingir como forma de calcular as necessidades de calagem (NC) , valores estes obtidos através da utilização da seguinte fórmula em t/ha:

 

NC= {(T x Vp)-S} x f ,

onde:

T= CTC do solo (deve-se ter atenção para a unidade utilizada para a expressão dos valores das análises químicas do solo)

S= Soma de Bases (adotar o mesmo cuidado acima assinalado)

Vp= valor da saturação de bases pretendida (expressa em número real e não em valor percentual (V%/100));

f= 100/PRNT, quando os valores forem informados em e.mg/(100ml, 100cm3 ou 100g) ou cmolc/dm3, ou

f= 100/10xPRNT, quando os valores estiverem informados em mmolc/dm3.

 

As duas formas anteriores de calcular as necessidades de calagem (NC) são utilizadas de forma ampla na agricultura, inclusive para a cana-de-açúcar. Contudo, pode-se aplicar metodologia desenvolvida especificamente para a cultura da cana-de-açúcar, conforme a fórmula abaixo (Método Copersucar), estabelecendo o valor de 3,0 como uma quantidade ideal no solo para a soma de Ca+Mg, quando os teores estiverem expressos em e.mg/(100ml, 100cm3 ou 100g) ou em cmolc /dm3 e de 30 quando os valores estiverem expressos em mmolc/dm3. As fórmulas para a determinação das necessidades de calagem (NC) ficam assim expressas (em t/ha):

 

NC= {3,0-(Ca+Mg)} x f,

onde:

f= 100/PRNT, para dados informados em e.mg/(100ml, 100cm3 ou 100g) ou em cmolc /dm3e

 

NC= {30,0-(Ca+Mg)} x f,

onde:

f= 100/PRNTx10, para dados informados em mmolc/dm3.

Um outro Método Alternativo, normalmente utilizado para culturas anuais (milho, soja, etc.), também pode ser utilizado para a definição da necessidade de calagem (NC). Neste caso, a recomendação sofre pequenas alterações, pois introduz o valor do alumínio e a sua neutralização como um outro fator a ser considerado para a indicação da quantidade de corretivo, ficando assim:

 

NC= {(Y x Al+3)+ [X - (Ca+2+Mg+2)]} x f => t calcário/ha,

 

onde o valor de Y varia em função da textura do solo, sendo:

Y= 1, para solos arenosos (< 15% de argila);

Y= 2, para solos de textura média (15 a 35% de argila) e

Y= 3, para solos argilosos (> 35% de argila).

O valor de X para a cultura do milho é 2,0, quando a unidade de determinação é e.mg/(100ml, 100cm3 ou 100g) ou em cmolc /dm3 e o valor de f é igual a (=) 100/PRNT. Quando a unidade de determinação for mmolc/dm3 o valor de X será 20 e o valor de f= 100/PRNTx10.

 

B. Métodos para Recomendação de Gessagem.

 

Quando a presença de alumínio nos horizontes agricultáveis, especialmente aqueles abaixo da camada arável, apresenta conteúdos que possam comprometer o desempenho produtivo das culturas, recomenda-se que o uso do gesso agrícola seja cogitado. A sua elevada solubilidade permite que a sua atuação ocorra em sítios onde o calcário tem mais dificuldade de agir eliminando o alumínio nocivo às raízes.

Na medida em que o gesso não é um corretivo de solo, ele atuará apenas sobre o alumínio, deixando de quebra o íon cálcio que compõe o Sulfato de Cálcio. Desta forma, este é um produto indicado para ser aplicado em situações específicas, pois quando existe a necessidade de correção do pH do solo ele não é uma alternativa coerente. Assim, para que as plantas possam beneficiar-se do uso deste produto, o solo já deverá estar corrigido com aplicações de calcário, ou em não havendo necessidade de correção, as plantas deverão apresentar-se mais tolerantes à acidez ou ter uma  necessidade adicional de cálcio para a sua nutrição, uma vez que o alumínio é um elemento nocivo para a grande maioria das plantas cultivadas.

No caso de estas condições estarem presentes, as respostas às aplicações de gesso poderão acontecer quando as seguintes condições no solo forem observadas (conforme as sugestões abaixo relacionadas):

1.       Saturação por Al na CTC efetiva maior que 20% e teor de Ca menor que 0,5 cmolc/dm3  (ou 5 mmolc/dm3) de solo (EMBRAPA-MS/MT).

2.      Saturação por Al na CTC efetiva maior que 30%, e teor de Ca menor que 0,4 cmolc/dm3  (ou 4 mmolc/dm3)  de solo (EMBRAPA).

3.      Saturação por Al na CTC efetiva maior que 40%, e teor de Ca menor que 4 mmolc/dm3 (ou 0,4 cmolc/dm3) e Al maior que 5 mmolc/dm3 (ou 0,5 cmolc/dm3) de solo (BOLETIM TÉC. 100/IAC).

Uma vez constatada, que as das camadas sub-superficiais do terreno apresentam as condições químicas que preconizam o uso do gesso agrícola, pode-se adotar as seguintes alternativas para a definição das necessidades de gesso:

 

B.1) A metodologia desenvolvida pela EMBRAPA propõe recomendações considerando a textura do solo na camada estudada, definindo as dosagens abaixo:

S  - solos de textura arenosa (< 15%), usar 0,7 t/ha de gesso.

S  - solos de textura média (15 a 35% de argila), usar 1,2 t/ha de gesso.

S  - solos argilosos (36 a 60% de argila), usar 2,2 t/ha de gesso.

S  - solos muito argilosos (> 60% de argila), usar 3,2 t/ha de gesso.

 

B.2) A proposta sugerida no BOLETIM TÉC. 100/IAC, também considera as condições químicas de solo na camada imediatamente abaixo da camada arável (de 20 a 40cm), mas define a Necessidade de Gesso (NG) a partir de uma fórmula específica. As características químicas consideradas são as seguintes:

       Ca+2 - menor que (<) 4mmolc/dm3 e

      Al+3  - maior que (>)  5mmolc/dm3 e

m%  - (saturação de alumínio) maior que (>) 40% na profundidade de 20 a 40 cm. Se estas condições forem observadas, a dosagem de gesso poderá ser calculada conforme a fórmula abaixo:

 

NG= 6 x teor de argila,

onde:

NG é a necessidade de gesso em kg/ha

Teor de argila: deve se expresso em g/kg.

 

1.1.2.2. CUIDADOS COM A APLICAÇÃO DO CORRETIVO.

 

As quantidades de corretivos aplicadas para a adequação da fertilidade do solo para o plantio da cana-de-açúcar serão uma decorrência das condições químicas, específicas de cada tipo de solo encontrado nas áreas destinadas ao seu cultivo. Os teores destes elementos químicos serão obtidos através de análises químicas, realizadas em amostras dos solos coletados nas regiões escolhidas para o plantio, utilizando-se para isto métodos de coleta e de análises químicas e de recomendações apropriados. Quanto maior for o rigor adotado para a coleta das amostras de solo no campo e a precisão das determinações laboratoriais, mais garantidas serão as indicações dos produtos e doses utilizados para a correção do solo.

A aplicação de calcário é uma prática adotada na maioria dos solos destinados à agricultura no Brasil. Este princípio também vale para a cana-de-açúcar e o corretivo deve ser aplicado com algum tempo antes da realização do plantio da cana. Esta é a prática mais comum. Contudo, é possível utilizar tais produtos corretivos como uma alternativa para o suprimento de deficiências dos solos em canaviais já instalados, seja por ausência de aplicação do corretivo por ocasião do plantio, seja por características do próprio solo nos locais plantados com a cultura.

Neste caso, a experimentação local sempre oferecerá elementos para situações específicas. Foi o que ocorreu na Destilaria Giasa, no estado da Paraíba. Por esquecimento, falta de critério técnico ou indisponibilidade de calcário, a cana foi plantada em terreno preparado sem a aplicação do corretivo. Para estudar a possibilidade de respostas a aplicações tardias (depois do primeiro ou segundo cortes) foi instalado um experimento, conduzido durante duas safras, que permitiu concluir que para as condições de solos arenosos (Latossol Vermelho Amarelo – Lva) seria possível utilizar aplicações posteriores à colheita da cana em um corte mais avançado. Neste experimento, o uso da calagem mostrou-se efetivo ao favorecer a retomada da produtividade em soqueiras de canaviais plantados sem a utilização da prática de aplicação do corretivo como parte da preparação do solo para o plantio da cana (quadro 1.1.2.2.a).

 

Quadro 1.1.2.2.a - Ganhos de produtividade em canaviais plantados em solos se corretivos e que receberam aplicações após o segundo corte.

Tratamentos (t/ha)

Colheitas

Média

Calcário

Gesso

30 corte

40 corte

(t/ha)

0

0

87,44

83,30

85,38

1

0

94,87

84,82

89,84

2

0

98,88

87,40

93,18

3

0

99,36

89,33

94,34

0

1

91,41

86,69

89,05

0

2

96,37

85,12

90,74

0

3

94,32

81,83

88,07

2

2

98,59

90,48

94,53

Albino & Miller, 2002.

 

Nas áreas onde serão implantados novos canaviais ou mesmo processadas reformas de canaviais já existentes, o trabalho de aplicação do corretivo deve acontecer com o terreno livre de obstáculos. Sob estas condições, as máquinas e equipamentos de distribuição trafegam mais livremente, sem grandes alterações na velocidade de operação e com bom alinhamento do conjunto aplicador. Com estes cuidados as faixas de aplicação deixarão uma cobertura mais uniforme quando da deposição do produto sobre o terreno.

Sob condições de menor uniformidade, quando o terreno está tomado por algum tipo de vegetação ou assolado por sulcos de erosão, cujas presenças dificultem a realização da operação, será necessário uma preparação do terreno, retirando-se restos de cultura e promovendo sistematizações, para que a operação de aplicação do corretivo possa ser realizada.

Em áreas onde havia anteriormente algum tipo de vegetação arbórea, mesmo após a limpeza do terreno, haverá a necessidade refazer o trabalho de limpeza com tratores equipados com lâminas frontais ou promover a sua retirada através da catação manual. Normalmente as condições do terreno após a retirada de vegetações arbóreas deixam a sua superfície bastante danificada e irregular após a retirada de tocos e será necessário promover uma sistematização da superfície do terreno de forma a deixá-la com maior uniformidade.  Sempre sobram restos que precisam ser catados manualmente e depois da retirada deste material, que comumente causam danos aos pneus das máquinas e equipamentos, deve-se proceder a uma gradagem pesada. Este refinamento na uniformização da superfície do solo  irá facilitar o trabalho dos equipamentos utilizados para a aplicação dos corretivos de solos.

No caso de locais com pastagem recomenda-se uma gradagem pesada para reduzir a quantidade de massa vegetal, quando esta é muito alta, visando facilitar a visão do operador e possibilitar melhores condições operacionais para o implemento aplicador. Quando o terreno já vem sendo cultivado com cana-de-açúcar ou qualquer outra cultura anual e a superfície do terreno já se encontra livre de obstáculos, a aplicação do corretivo e  a respectiva dosagem estarão apenas condicionadas às necessidades definidas nas análises do solo.

Sempre que houver desuniformidade do terreno, decorrentes de sulcos de erosão, o mesmo processo de sistematização das áreas desmatadas deverá ser utilizado para a melhoria da superfície do terreno. Em quaisquer destas condições expostas é importante ter-se em mente que para funcionar a contento o corretivo deverá ser aplicado com uma antecedência mínima de 45 a 90 dias do plantio da cultura, devendo por isso mesmo ser incorporado ao solo através de uma gradagem numa profundidade entre 10 e 15 cm. Esta antecipação é importante para garantir que as reações do corretivo se processem no solo e garantam condições de pH adequadas para o desenvolvimento da cultura da cana.

Em quaisquer das condições em que se encontram as áreas plantadas com cana (novas implantações de canaviais, áreas com reforma de canaviais existentes ou em soqueiras com deficiências de cálcio e magnésio), os cuidados com a aplicação devem estar presentes para que os tratores e respectivos implementos possam realizar o trabalho de forma a garantir que uma qualidade de aplicação que promova a melhoria da produtividade das áreas onde foram evidenciadas as necessidades de corretivos.

 

A) Equipamentos para Realização das Operações (Aplicação de Calcário)

 

Os equipamentos para a aplicação de calcário são constituídos de um depósito e um mecanismo para transportar e espalhar o produto sobre o solo. O tamanho do depósito é bastante variável, podendo a sua capacidade variar entre 300Kg até algo próximo de 3 toneladas. Os mecanismos para a distribuição podem ser de dois tipos:

 

1.A) Com pratos giratórios equipando carretas ou equipamentos acoplados ao terceiro ponto dos tratores (fig. 1.1.2.a.).

 

Estes equipamentos apresentam maior eficiência quando o calcário a ser distribuído apresenta-se grosseiro e com alguma umidade. Contudo, esta umidade precisa estar em um nível que não comprometa a manipulação do produto e não provoque embuchamento nos mecanismos de distribuição. Quando for utilizado um calcário muito seco a desuniformidade de distribuição, poderá ocorrer com maior intensidade, pois qualquer corrente de vento pode transportar o produto para longe do ponto de aplicação.

 

Figura 1.1.2.2.a. – Equipamentos para a distribuição de calcário com pratos rotativos, com diferentes formas e tamanhos de depósitos.

 

Figura 1.1.2.2.a. – Equipamentos para a distribuição de calcário com pratos rotativos, com diferentes formas e tamanhos de depósitos.

 

2A) Com cochos providos de roscas sem fim e agitadores, sendo a queda do produto por gravidade (fig. 1.1.2.2.b.). Neste tipo de equipamento a aplicação é mais homogênea, cobrindo com maior uniformemente toda a superfície do terreno onde se realiza a aplicação do corretivo. Neste caso, o produto precisa estar necessariamente seco, pois caso contrário o material terá dificuldade para passar pelos orifícios ou espaços de passagem do produto em razão da aglutinação provocada pela umidade, comprometendo a qualidade de distribuição do produto corretivo.

 

Figura 1.1.2.b.– Distribuidor de calcário provido de mecanismo para facilitar a queda do produto por gravidade.

 

Figura 1.1.2.b.Distribuidor de calcário provido de mecanismo para facilitar a queda do produto por gravidade.

 

Quando estes tipos de equipamentos são utilizados é indicado que o calcário destinado às aplicações no campo, ao ser depositado em montes, seja coberto com uma lona para que fique protegido de eventuais chuvas que ocorram antes e durante a aplicação do produto. Para cobrir estes montes de calcário pode-se utilizar lonas pretas, de baixo custo, mas que protegem muito bem o produto destas pequenas intempéries climáticas.

Quando o solo das áreas, onde serão plantadas lavouras de cana-de-açúcar, utilizando-se a preparação convencional do solo, encontra-se ocupado com pastagens, a aplicação deve ser realizada após uma gradagem pesada para incorporar parte da massa vegetal e deixar a superfície com maior visibilidade para o operador. Desta forma ele poderá divisar com maior clareza as faixas de aplicação, evitando sobreposição exagerada e precaver-se de eventuais obstáculos que possam existir sobre a superfície do terreno.

Por outro lado, caso o local esteja ocupado com a própria cultura da cana ou outras lavouras de culturas de hábitos anuais e a preparação convencional do solo será a opção para o plantio da cana, a aplicação do corretivo poderá ocorrer com a presença dos restos das culturas que anteriormente ocupavam a área, desde que a massa vegetal não perturbe a qualidade da operação de aplicação. Neste contexto, a incorporação do corretivo será realizada com as sucessivas passadas de grade para destruir os restos de cultura, que o deixará bem incorporado ao solo. 

A adoção do preparo do solo, utilizando-se o cultivo mínimo e a destruição química das soqueiras, pode ser um fator facilitador para a aplicação do corretivo. Normalmente terrenos já cultivados apresentam superfícies bem regularizadas e oferecem boas condições para a operação dos equipamentos.  A aplicação poderá ocorrer após a morte da brotação, guardando-se o devido espaço de tempo para que o produto consiga infiltrar-se no solo. A aplicação do corretivo na superfície não constitui limitação para a sua incorporação no solo, ainda que seja um produto com baixa solubilidade.

Os restos orgânicos deixados sobre a superfície do solo no plantio direto apresentam a tendência de acidificar o solo das camadas superficiais do solo devido ao acúmulo de matéria orgânica e de resíduos de adubação, sobretudo de fertilizantes nitrogenados. A lixiviação do nitrato promove a lavagem de quantidades equivalentes de cátions encontrados nos corretivos, facilitando a penetração dos elementos corretivos em profundidade nos locais com menor movimentação do solo. 

Aliado a estes fatos é importante lembrar que o solo será removido a distâncias entre 1,40 e 1,50 metros e a profundidades de aproximadamente 0,35m no momento da abertura dos sulcos de plantio, o que por si só é uma significativa mobilização do solo. Ainda assim, existem orientações para se aplicar parte do produto em superfície, reservando-se uma outra parte para ser aplicada após a abertura dos sulcos de plantio, antes da disposição dos toletes (rebolos) no fundo sulco. Algo bastante discutível e que merece um pouco mais de investigação.     

 

1.1.3. ERRADICAÇÃO DOS RESTOS DAS CULTURAS ANTERIORES (1.3. na figura 1.1.a)

 

O plantio da cana-de-açúcar em empresas agroindustriais estabilizadas  ocorre prioritariamente em locais onde anteriormente se plantava a própria cana. Eventualmente, ocorrendo algum tipo de ampliação da área cultivada ou troca de área outros locais podem ser utilizados que anteriormente estavam ocupados com outras culturas (culturas anuais, perenes ou pastagem). Em quaisquer destas duas condições de ocupação em que se encontrarem os terrenos, os restos das culturas anteriores precisam ser destruídos e incorporados ao solo, tendo como objetivo deixar o terreno apto para receber as operações subseqüentes  relacionadas com o plantio da cana.

A destruição dos restos das culturas anteriormente existentes nos locais destinados ao plantio da cana pode ser realizada utilizando-se de produtos químicos (herbicidas) que eliminam as plantas deixando o solo no seu estado natural de agregação (cultivo mínimo) ou através de métodos mecânicos, onde o solo é revolvido tendo como finalidade principal picar e incorporar os restos culturais anteriormente existentes no local (sistema convencional). Neste revolvimento mais grosseiro (preparo convencional), são utilizadas grades pesadas ou de arados, ficando o trabalho de reduzir o tamanho das partículas vegetais e diminuir o tamanho dos agregados do solo (torrões) com a gradagem leve.

Estes diferentes sistemas de erradicação de culturas, ao interferirem com maior ou menor intensidade sobre as propriedades físicas do solo, podem afetar de formas distintas a disponibilidade de água para as plantas. Com isso a disponibilidade de nutrientes pode ser afetada, por ser muito estreita a relação da água com a absorção de nutrientes, devido aos efeitos da água sobre os mecanismos de contato entre os íons e as radicelas. Aparentemente os diferentes sistemas de preparo de solo apresentam baixíssimo impacto nos conteúdos de Alumínio, Cálcio e Magnésio (trocáveis) na profundidade agricultável do solo, o mesmo ocorrendo com o comportamento do pH. Por outro lado, o teor de matéria orgânica no solo tende a diminuir ao longo do tempo de utilização agrícola do terreno, independentemente do sistema de preparo  de solo utilizado. 

 

1.1.3.1. Erradicação Química das Culturas - Cultivo Mínimo (1.3.1. na figura 1.1.a)

 

O sistema de preparo de solo convencional realizado com o uso de arados e grades tende a desestruturar o estado de agregação atual do solo, tornando–o mais solto e conseqüentemente mais susceptível à erosão. Juntamente com esse processo erosivo, dependendo do nível de estabilidade da agregação do solo e da declividade existente no relevo do local, essa pulverização poderá provocar perdas de solo na camada arável, promovendo a redução dos seus teores  de matéria orgânica e reduzindo a sua capacidade de trocas catiônicas (CTC). Depois de revolvido mecanicamente, o solo apresentará duas fases distintas: a superficial pulverizada e a subsuperficial com o nível de adensamento original. Esses danos inevitavelmente provocados pelo preparo de solo convencional podem ser contornados por criteriosos trabalhos de conservação de solos.

Uma forma de minimizar esse efeito danoso dos implementos agrícolas sobre o solo pode ser encontrada no uso de um sistema de preparo reduzido do solo (cultivo mínimo), onde a planta seja eliminada através de produtos químicos e o solo seja minimamente revolvido (com uma descompactação utilizando tipos específicos de subsoladores com as hastes trabalhando no centro da entrelinha do cultivo anterior), quando o solo tenha baixo teor de umidade, preferencialmente nos momentos que antecedam a sulcagem.

Sistemas de preparo do solo como menor nível de mobilização favorecem o acumulo de nutrientes na camada superficial do solo. Isto tem especial importância para o fósforo, em razão de sua pouca mobilidade no solo. A parcela residual do nutriente fica confinada à profundidade em que fora aplicado, sobretudo em solos de natureza ácida e com elevados teores de argila. O teor de potássio não é afetado pelo sistema de preparo de solo mínimo e a sua distribuição no perfil do solo varia conforme o regime de drenagem, textura do solo e quantidade do produto aplicado para a cultura anterior.

No cultivo mínimo as plantas, sejam elas plantas de cana-de-açúcar ou qualquer outra que ofereça condições para a atuação do produto herbicida, são erradicadas (1.3.1. no fluxo da fig.1.1.a) com aplicações de produtos  que apresentem efeito sistêmico (fig. 1.1.3.1.a A), agindo sobre todo o sistema vegetativo da planta. Ao atuar sobre a planta (fig. 1.1.3.1.a B) como um todo possibilita que o solo permaneça em seu estado original, mantendo todas as suas propriedades físicas e químicas praticamente inalteradas.

Na medida em que o solo não é revolvido, a aplicação de calcário se realiza sobre a superfície com um tempo maior de antecedência (alguns meses) que aquelas realizadas em preparações convencionais, pois o fato de  o solo não ser revolvido demandará um tempo maior para que o calcário possa penetrar no solo.

A eficiência do calcário depende, dentre outros fatores, do contato do produto com a superfície específica do solo e do tempo de reação deste, devido a sua baixa solubilidade. Dessa forma, a sua eficiência está diretamente relacionada com a granulometria do produto corretivo, com a uniformidade da aplicação, com a sua incorporação ao solo e com a antecedência de aplicação em relação aos períodos de demanda das culturas.

Aparentemente é indiferente a forma como o calcário é aplicado ao solo. Usualmente a aplicação de calcário deve ser seguida de sua incorporação ao solo em profundidades variando entre 10 e 20cm. Entretanto, a sua utilização para a correção da acidez do solo em áreas sob sistema plantio direto de soja é realizada sobre superfície do solo, sem a sua incorporação.  Contudo, resultados experimentais mostram que na cultura da soja a produção de grãos não sofreu interferência das diferentes doses e formas de aplicação de calcário. Os valores de produção de grãos não diferiram estatisticamente entre os diferentes tratamentos quando o calcário foi aplicado em superfície ou incorporada ao solo, independentemente da forma utilização dos fertilizantes (no sulco ou também em superfície).

 

A

B

Figura 1.1.3.1.a (A e B)– Diferentes situações observadas em locais com implantação de canaviais utilizando-se o cultivo mínimo, com eliminação da vegetação com o uso de herbicidas.

 

Em algumas situações, técnicos gestores da produção de cana têm como prática em áreas com cultivo mínimo aplicar uma parte do calcário em superfície e uma outra parte durante a sulcação, antes da distribuição das sementes, como comentado no item 1.1.2.. Convém lembrar que esses procedimentos devem estar sempre sustentados por experimentações locais, tantas são as formas especulativas utilizadas para a aplicação das diferentes tecnologias. 

A prática do cultivo mínimo deve ser direcionada para solos friáveis, onde durante a abertura dos sulcos ocorre formação de torrões com tamanhos que não irão comprometer a cobertura das sementes e a ação dos herbicidas. Assim, solos que apresentam texturas média ou arenosa independentemente da situação topográfica em estão localizados são os alvos preferidos para este tipo de prática agrícola. Ao adotar este procedimento, os sulcos de plantio ficam mais estruturados (fig. 1.1.3.1.a C), tornando-os mais protegidos de assoreamentos, que normalmente são provocados pelas águas das chuvas, quando o plantio é realizado em terrenos preparados de forma convencional.

Os restos da cultura anterior atuam como uma espécie de cobertura morta da superfície do solo e juntamente com o fato de ter havido movimentação mínima do mesmo, faz com a sua estrutura seja mantida com maior integridade (fig. 1.1.3.1.a D), reduzindo as chances de ocorrerem processos erosivos de maior intensidade. Este mesmo comportamento pode não acontecer quando um solo susceptível à erosão é plantado depois de preparado conforme procedimentos convencionais de preparo de solo.

 

C

D

Figura 1.1.3.1.a (C eD)– Diferentes situações observadas em locais com implantação de canaviais utilizando-se o cultivo mínimo, com eliminação da vegetação com o uso de herbicidas.

 

1.1.3.2. Erradicação Mecânica de Culturas (1.3.2. na figura 1.1.a)

 

A destruição mecânica dos restos de cultura em geral é realizada através da aplicação de gradagens, que pode ser realizada utilizando-se implementos de diferentes tamanhos e com diferentes finalidades. Para fins de sistematização da terminologia e definições para o seu uso, elas podem ser classificadas segundo parâmetros que apresentam uma certa elasticidade, mantendo-se de forma geral, dentro dos parâmetros, cuja discriminação é mostrada na tabela 1.1.3.2.a, apresentada a seguir.

Quando o objetivo é erradicar e incorporar restos da cultura de cana-de-açúcar ou de outras culturas utiliza-se o sistema convencional de preparo de solo.  Neste sistema, utilizam-se tradicionalmente grades como instrumento para a realização da operação. Arados podem complementar o trabalho de incorporação dos restos de culturas anteriores. A restrição ao seu uso está normalmente relacionada com os seus custos, entretanto, é indiscutível a capacidade de revolvimento dos solos quando a operação de aração é comparada com a gradagem. Outros equipamentos, como o eliminador rotativo de soqueiras, também podem ser utilizados para esse trabalho. Contudo, esse equipamento não tem sido comumente utilizado rotineiramente para a realização de tarefas desta atividade.

A maior profundidade de mobilização do solo proporcionada pelo sistema convencional de preparo de solo promove um conseqüente aprofundamento de determinados nutrientes no perfil do solo. Dentre esses elementos nutricionais, o fósforo é o que apresenta maior alteração. O fato de ser muito pouco móvel no solo, o fósforo apresenta a tendência de permanecer nas posições onde fora originalmente colocado. O revolvimento do solo com grades e arados a profundidades superiores a 25cm, facilita o seu aprofundamento no perfil e promove uma melhor distribuição do elemento em profundidade. Ainda que o cálcio, magnésio e potássio sejam pouco afetados pelo preparo, é importante lembrar que os corretivos da acidez do solo (fontes de Ca e Mg) podem apresentar melhor atuação quando são mais profundamente incorporados no solo.   

 

Tabela 1.1.3.2.a — Características das diferentes classes de grades: leve, média, pesada e super pesada.

 

Classes

 

Peso /disco

Distância entre discos

Diâmetro de disco

 

Finalidades

Grade leve

20 — 60 kg

17—24cm

20— 24”

Nivelamento e destorroamento como

 

 

 

 

operação de acabamento de preparo de

 

 

 

 

solo.

Grade média

100—150 kg

24—36 cm

26— 30”

Preparo de solo raso para cereais.

Grade pesada

200—350 kg

32—50 cm

32— 34”

Preparo de solo mais profundo em culturas

 

 

 

 

como a cana-de-açúcar e terras virgens.

Grade super

pesada

400—600 kg

50 cm

36

Idem anterior, porém apresentam maiores

dificuldades em situações de penetração

 

 

 

 

 e corte de restos vegetais.

 

1.1.3.2.1.  Gradagem Pesada (1.3.2.1. na figura 1.1.a)

 

A gradagem pesada é a primeira ação mecânica (1.3.2.1.) no fluxo da figura 1.1.a, cuja finalidade consiste em destruir e incorporar ao solo os restos vegetais deixados no terreno, depois da realização das operações que antecedem a preparação de solo (limpeza de terrenos brutos, pastagens, culturas anuais, soqueiras de cana, etc.), cujo destino será o plantio da cana-de-açúcar.

Em razão de características inerentes à sua constituição (peso e tamanho dos discos de corte), a sua utilização é muito importante após as operações de destoca e limpeza do terreno, com a finalidade de reduzir os restos vegetais, fruto da retirada da vegetação nativa ou de florestas artificiais ou culturas perenes (café, citrus, pastagem, etc) existentes anteriormente, nos locais destinados à implantação de lavouras de cana.

Evidentemente, a lavoura de cana também pode ser plantada em áreas ocupadas por culturas anuais (soja, milho, arroz, etc). Neste caso a gradagem pesada é utilizada para incorporar restos orgânicos destas culturas  que foram anteriormente plantadas no local. Contudo, a gradagem pesada é mais comumente utilizada para destruir e incorporar os restos de canaviais em áreas destinadas à renovação de canaviais, uma vez que, as áreas a serem reformadas para a implantação de novos canaviais, normalmente superam as áreas com ampliação para a incorporação de novas áreas ao montante cultivado pela Empresa. É recomendável que antes da sua realização seja aplicado o corretivo de solo sobre o terreno, de forma a garantir que a sua incorporação possa acontecer sempre com a antecedência recomendável. Este procedimento tem como objetivo proporcionar um tempo suficientemente longo para as reações do corretivo com as partículas do solo.

O arrancamento e destruição das soqueiras podem ser realizados utilizando-se grades pesadas ou intermediárias, dependendo do tipo de solo encontrado no local, da condição de umidade do solo e do nível de desenvolvimento da soqueira de cana. Do ponto de vista agronômico, espera-se da gradagem, seja ela pesada ou intermediária, a remoção e a fragmentação das soqueiras de forma a expor os rizomas à ação do sol na superfície do solo, sem cobri-los com terra, com a finalidade de dificultar a sua rebrota das gemas remanescentes.

A penetração do implemento no solo é um fator decisivo para a qualidade do trabalho realizado pelas grades. Isto porque, a profundidade de trabalho está diretamente relacionada com tipo de solo e com o grau de umidade do solo ocorrendo no momento da realização da operação. Em solos argilosos, a umidade do solo deve estar no ponto de conferir-lhe um estado friável. Isto significa que os blocos formados com a passagem dos discos apresentam a condição de esfarelarem em blocos pequenos e médios quando submetidos a pequenos esforços. Se o terreno estiver com umidade excessiva o solo agarrará nos discos, dificultando o corte. Palhas misturadas ao solo podem aglutinar-se nos intervalos dos discos, enrolando-se nos eixos, causando o embuchamento destes espaços e fazendo com que os eixos assumam a forma de um rolo.

Na condição oposta, quando o solo apresenta-se muito seco será muito difícil a penetração do disco do implemento e ainda que seja possível arrancar as soqueiras o trabalho será muito superficial, deixando de trazer os benefícios esperados sobre as propriedades físicas do solo.

Por outro lado, em solos de textura média e arenosa a operação da gradagem pesada ou intermediária apresenta maior eficiência na destruição das soqueiras quando os terrenos encontram-se mais secos ou realmente secos. Ainda que a operação possa ser realizada normalmente, uma certa umidade no solo sempre irá  facilitar o arrancamento e destruição das soqueiras. Em terrenos com solos arenosos é preciso estar muito atento para as condições de umidade do solo. Isto porque, a baixa resistência oferecida pelas soqueiras, em condição de alta umidade, dificulta o seu corte, pois em certas ocasiões, poderá haver apenas o deslocamento lateral das mesmas.

O grau de desenvolvimento das soqueiras é um fator limitante para o arrancamento eficiente das soqueiras. Quanto maiores forem as plantas, maior será a necessidade de vezes que as operações deverão ser executadas para picar os restos que sobrarem sobre terreno. O melhor momento para atuar sobre as soqueiras visando à reforma de canaviais é  imediatamente após a sua colheita. Neste momento não haverá grande quantidade de massa vegetal e será mais fácil arrancar e picar as cepas das soqueiras.

O nível de eficiência no arrancamento e destruição dos restos das soqueiras de cana-de-açúcar, quando se utilizam grades, dependerá da escolha do implemento a ser utilizado, do nível de manutenção dos eixos e discos e das condições onde deverá operar. A grade pesada arranca a soqueira, mas devido à grande distância entre os discos, são menos eficientes para picar as touceiras. Neste caso, apresentam alguma deficiência para eliminarem a rebrota das gemas encontradas nas cepas restantes sobre o terreno. Contudo, estes equipamentos podem trabalhar em condições mais adversas, pois o diâmetro do disco e o peso por disco conferem esta condição para as grades pesadas.

Por outro lado, as grades intermediárias podem atuar mais eficientemente em solos mais friáveis, onde as soqueiras foram recém cortadas, promovendo melhor arrancamento e destruição dos restos de cultura. Em razão da maior proximidade dos discos ela consegue picar melhor as cepas e deixá-las exposta aos raios de sol para secarem.

Independentemente da classe de grade que se utilizar, seja pesada ou intermediária, sempre haverá a necessidade de se realizar gradagens leves após as aplicações das grades mais pesadas sobre as soqueiras. As grades leves, por terem os discos mais próximos um dos outros, conseguem reduzir o tamanho dos torrões ou picar com maior eficiência os restos das cepas de cana e incorporá-los ao solo,  garantindo definitivamente a sua eliminação.

Os implementos utilizados para a realização desta operação podem apresentar diferentes dimensões, sendo disponibilizados no mercado em duas diferentes configurações: umas articuladas e de arrasto e outras com eixos fixos e sustentadas por rodas (Fig. 1.1.3.2.1..a e Fig. 1.1.3.2.1.b). Para quaisquer das configurações é preciso compatibilizar a potência dos tratores disponíveis com as demandas impostas para a tração dos implementos. A profundidade de corte dos discos, que neste tipo de equipamento, pode atingir profundidades máximas de até 20cm e o número de discos e o peso são os parâmetros utilizados para a definição da potência necessária que o trator deverá possuir para a tração do equipamento.

Dependendo do tipo de implemento (de arrasto ou montado em chassi sustentado por rodas), esta operação poderá ser realizada de duas formas:

Ø      Iniciando-se pelas bordas dos talhões e desenvolvendo a operação no sentido do interior das áreas, ou;

Ø      Iniciando a operação a partir do seu interior para as partes mais externas, abrindo o quadro.

Considerando que as leivas são tombadas para o lado direito do equipamento (parte côncava do disco), a realização da operação fechando o quadro, isto é, das bordas para o interior da área, implicará num caminhamento no sentido  anti-horário. Quando a operação for realizada abrindo o quadro, isto é do interior da gleba para as suas bordas, o caminhamento do conjunto - máquina e implemento - será no sentido horário. 

 

a) Implementos para a Realização das Operações

 

As grades pesadas podem sem construídas sobre chassi estruturado ou móvel. No chassi estruturado os eixos são fixados em um chassi e abertura dos eixos, que define o ângulo de ataque, apesar de regulável é fixada durante a operação (Fig. 1.1.3.2.1.a). Em razão do chassi esse tipo de grade pode ser transportado pelo próprio trator quando a máquina  tem pneus como material rodante.

 

Figura 1.1.3.2.1.a. - Aplicação de grade pesada no preparo do solo.

 

Quando este implemento tem os eixos móveis ou articulados, o ângulo de ataque pode ser controlado durante a operação (Fig. 1.1.3.2.1.b.) através de dispositivo acionado através de mecanismo mecânico ou hidráulico. Neste caso, a mudança deste equipamento de um local para outro deve necessariamente ser realizada através de caminhões destinados a este fim, equipados com guindaste para movimentá-lo e posicioná-lo sobre a carroceria, estejam os implementos engatados a tratores sustentados por pneus ou por esteiras de aço ou de borracha.

 

Figura 1.1.3.2.1.b - Aplicação de grade pesada na eliminação de soqueiras em área de renovação.

 

Os discos devem ser preferencialmente recortados em razão de eficácia no corte do terreno. O número de discos pode variar entre 12 e 30, apresentando convencionalmente o diâmetros variando entre 32e 36” e espessuras de 3/4” e 1/2“ polegada. Para serem eficientes na preparação do solo, estes recortes não podem apresentar desgastes que superem em 50% a 60% a profundidade do recorte do disco. Com desgastes maiores na parte recortada, o disco passa a ter um comportamento de disco liso, com menor eficiência no corte das leivas.

O espaçamento entre discos pode variar de 350mm a 400mm dependendo do fabricante e condição em que se encontra o terreno onde o trabalho será realizado. Conforme estas especificações, cada disco poderá apresentar peso de atuação variando entre 250 e 350 quilos. Com estas características, a profundidade de corte deste tipo de equipamento, condicionada à umidade do solo poderá variar entre 15 e 25 centímetros.

As grades intermediárias são implementos compostas por um número variável de discos (entre 14 e 48, dependendo da potência da máquina a ser utilizada para realizar a operação),  com diâmetro entre 28 e 30 polegadas, com espessura variando entre 5/16 e 3/8 de polegadas e discos com espaçamento variando entre 240 e 270mm.

São implementos que também podem ser montadas em chassi rígido (Fig. 1.1.3.2.1.c.) e transportada sobre rodas ou estruturadas em eixos móveis e abertura regulável (Fig. 1.1.3.2.1.d.), porém este segundo tipo de implemento apresenta o inconveniente de ter que ser transportado através de veículos (caminhões ou carretas) preparados para esse fim.

 

Figura 1.1.3.2.1.c. – Grade intermediaria montada em chassi sustentado por rodas.

 

O espaçamento entre os discos, segundo alguns fabricantes pode ficar em 360 mm, com peso por disco variando entre 150 e 220 kg.

 

Figura 1.1.3.2.1.d. – Grade intermediaria com chassi articulado, de arrasto.

 

1.1.3.2.2. Gradagem Leve (1.3.2.2. na figura 1.1.a)

 

A gradagem leve, quando aplicada após a primeira gradagem pesada (1.3.2.2. no fluxo da fig. 1.1.a), tem a finalidade de reduzir o tamanho dos agradados do solo e picar em pedaços menores os restos da cultura anterior encontrada no local. Ela pode atingir uma profundidade de corte variando entre 10 e 15 centímetros. Quando utilizada na cultura da cana, especificamente, tem a finalidade de expor e reduzir o tamanho dos rizomas das soqueiras anteriormente existentes, evitando que estas brotem e contaminem com diferentes variedades os novos plantios.

A operação de gradagem leve normalmente acontece imediatamente antes do plantio (lembrar da preparação para o controle de plantas daninhas). Desta forma ela poderá ocorrer com movimentos de idas e vindas no sentido longitudinal da área de trabalho. Caso o trabalho seja realizado tomando toda uma área (talhão), a operação pode ser realizada das bordas para o interior das áreas, fechado o quadro, ou do seu interior para as partes mais externas, abrindo o quadro. Considerando que as leivas são tombadas para o lado direito do equipamento (parte côncava do disco), a realização da operação fechando o quadro, isto é das bordas para o interior da área, implicará num caminhamento no sentido será anti-horário e quando a operação for realizada abrindo o quadro, isto é do interior da gleba para as suas bordas, o sentido de direção será horário.  

 

 

a) Implementos para Realização das Operações

 

A gama de modelos e especificações que podem ser utilizados para a realização de gradagem leve é bastante ampla e, em algumas empresas pode incluir as chamadas grades intermediárias como alternativa para a realização da primeira gradagem leve no processo de preparo de solo. Como observado para os modelos de grades pesadas, as grades leves também podem ser estruturadas em chassi (Figura 1.1.3.2.2.a), com os eixos fixos e sustentados por pneus ou terem os eixos articulados (Figura 1.1.3.2.2.b), acionados de forma mecânica ou hidráulica, funcionado apenas na forma de arraste.

 

Fig. 1.1.3.2.2.a. – Grade leve montada em chassi rígido e sustentada por rodas, utilizada para complementar o trabalho da grade pesada.

 

Essas grades leves são implementos compostas por um número variável de discos (entre 32 e 100 discos, dependendo da potência da máquina destinada para realização da operação),  com diâmetros entre 20 e 24 polegadas, com espessura do disco variando entre 3,5 e 4,5mm e com espaçamento entre discos variando entre 170 e 240mm.

A inclusão da grade intermediária também na atividade de gradagem leve (ela também pode ser incluída no trabalho de gradagem pesada) como alternativa de equipamentos, para esta fase do preparo do solo, demonstra a versatilidade deste implemento nas operações para o preparo do terreno para o plantio.

Assim, quando as condições do terreno exigem menor agressividade durante o preparo de solo ela pode substituir a grade pesada. Por outro lado, quando a gradagem pesada (primeira) não conseguiu uma desintegração adequada do solo, deixando uma maior quantidade de torrões com tamanho mais avantajado do que o indicado se pode empregar a grade intermediária, para fazer um trabalho similar da grade leve, substituindo-a neste momento do preparo do solo.

 

Fig. 1.1.3.2.2.b. - Grade leve de arrasto utilizada para complementar o trabalho da grade pesada.

 

Esta versatilidade também pode relacionar-se com o tipo de solo, pois em solos mais soltos a grade intermediária pode atuar com eficácia similar àquela apresentada pela grade pesada. É importante estar atento para a aplicação destas opções de implementos, porque o que estará sempre em jogo são os custos, que são função dos níveis dos rendimentos operacionais. Quanto maior a rentabilidade em termos de hectares preparados por hora trabalhada de um trator, menor o custo operacional das operações.

 

1.1.4. Conservação de Solos – Estradas e Terraços (1.4. na figura 1.1.a)

 

A atividade de Conservação de Solos no processo de preparo do solo não se resume apenas na marcação  e construção de terraços com a finalidade de reduzir ou conter os efeitos daninhos das águas de escorrimento superficial   nas glebas destinadas ao plantio de cana-de-açúcar.

As próprias operações de gradagem, aração e subsolagem são fatores de grande importância na conservação do solo. Elas, juntamente com as estradas e carreadores, compõem a estrutura de sustentação para a manutenção da integridade dos solos e das suas propriedades físicas e químicas, mantendo-as o mais próximo da condição original do solo.

Efetivamente, o terraceamento das áreas é muito importante na medida em que procura, dentro dos limites de sustentação do solo, reduzir os efeitos erosivos causados pelas águas das chuvas. Ao conter a água das chuvas dentro dos limites da área a cultivada, esses terraços reduzem a velocidade das enxurradas e atenuam a ação da água na formação de erosões. Pelo fato de tornarem a permanência da água mais longa sobre o solo, promovem uma maior taxa de infiltração, promovendo maior retenção de umidade ao longo de todo o perfil. Contudo, a necessidade de circulação pelas áreas plantadas com cana implica na construção de estradas e carreadores para tal finalidade.

Estas estruturas viárias ocupam áreas consideráveis e constituem espaços significativos, acabando por tornar-se um lugar que concentra grande parte das águas das chuvas. A ausência de um trabalho, que se proponha a minimizar os efeitos da inércia da água de escorrimento superficial, pode comprometer grande parte do trabalho. Toda a produção de cana  é escoada através de veículos motorizados e a rentabilidade destes equipamentos depende fundamentalmente da qualidade das estradas por onde eles trafegam. Daí, a questão da conservação do solo estar englobada num só item, uma vez que, a construção e manutenção das estruturas de terraços e estradas estão diretamente relacionadas com a produtividade, tanto da cultura, quanto dos equipamentos envolvidos na condução da cultura, desde o preparo de solo até a colheita da cana.

 

1.1.4.1. Estradas e Carreadores

 

A infra-estrutura de carreadores e estradas é uma decorrência da forma como é conduzida a exploração da cultura da cana-de-açúcar, onde a subdivisão das áreas cultivadas assume um papel importante no planejamento da ocupação do terreno e na condução do processo produtivo da cultura. Esta estrutura articulada para facilitar a movimentação de máquinas e veículos ocupa entre 5 e 7% da área total explorada com cana, dependendo das larguras adotadas para cada uma destas categorias de caminhos (estrada e carreador). A maior ou menor quantidade de carreadores ou estradas estará relacionada sempre com:

 

A) A ocupação do terreno está relacionada com: (a) demanda diária ou semanal de matéria prima para moagem, (b)com as características do relevo e dos solos existentes nas propriedades cultivadas, e (c) com as exigências e limitações devidas aos tipos equipamentos  utilizados para a realização das operações agrícolas.

 

a)           Demanda por matéria prima: A quantidade total de cana define a área total necessária para a exploração agrícola e as quantidades programadas para ser colhida diariamente é um fator determinante para a definição do tamanho dos talhões. Associado ao número de frentes de corte adotadas nas unidades produtoras, que subdividem as quantidades  referentes às necessidades diárias de cana a ser colhida, é estabelecido o tamanho aproximado da área, que cada talhão deverá apresentar. Desta feita, cada um dos talhões deverá ter a sua área dimensionada para produzir a quantidade aproximada de cana, estabelecida a partir dessa conjugação de parâmetros (quantidade de cana necessária para moagem e número de frentes);

b)           Relevo: O relevo determina a forma e, em algumas situações, contrariando o enunciado anteriormente, a dimensão dos talhões, ao mesmo tempo em que interfere na disposição das estradas que o contornam. Quando as áreas são planas o traçado dos carreadores pode formar figuras mais regulares, permitindo maior alinhamento destes caminhos. Nesta condição de terreno estes caminhos podem ser direcionados no sentido da unidade de produção (usina) sendo conectados às estradas principais num ângulo favorável para facilitar a operação do transporte. Neste tipo de relevo a conservação e manutenção dos carreadores são mais facilitadas, até porque os danos causados pelas águas das chuvas também são menores.

Em terrenos acidentados os carreadores são traçados de forma a adaptar-se às formas do relevo ali existente. Preferencialmente traçados em nível no sentido longitudinal do terreno, eles devem ser cruzados por outros carreadores no sentido vertical, projetados com a preocupação de evitar os locais com maior concentração de enxurradas. Do ponto de vista conservação do solo esta preocupação deve sempre estar presente no momento de planejar o traçado dos caminhos, seja em áreas com novos plantios ou em áreas de renovação, tendo sempre como objetivo melhorar traçados anteriormente efetuados.

É verdade que áreas acidentadas ainda são plantadas em regiões onde a disponibilidade de terras é limitada e o processo de mecanização ainda não é determinante na definição dos procedimentos operacionais adotados na produção de cana-de-açúcar. Contudo quando este tipo de terreno faz parte do escopo de trabalho de muitas empresas e é muito importante estar atento para estas necessidades, tendo como preocupação principal conservar as características químicas e físicas dos solos destes locais.

c)           Equipamentos:  Os equipamentos também podem atuar como fatores determinantes da configuração dos talhões, mais especificamente do seu comprimento no sentido da sulcação. Durante a sulcação e cultivos mecânicos é normal que as equipes de abastecimento estacionem os veículos de abastecimento em uma das extremidades do talhão para realizar os trabalhos. Este procedimento visa reduzir a movimentação das cargas e minimizar os custos que uma movimentação mais intensa poderia causar.

Algumas vezes os fertilizantes (sólidos) são depositados nas laterais dos talhões. Esta alternativa que aparentemente é mais tranqüila implica em cuidados adicionais, pois o fertilizante é um produto de elevado custo para ficar exposto a riscos do tempo e das pessoas (casos de furtos). Além disso, o cálculo das necessidades não é suficientemente preciso e seguramente será necessário que uma condução seja disponibilizada para o recolhimento da parcela não utilizada que restou no campo.

Os depósitos de adubo dos equipamentos de sulcação ou de cultivo acabam por definir os comprimentos dos sulcos, uma vez que as cargas das adubadeiras devem cobrir a ida e a volta do trator para a renovação do abastecimento de fertilizantes, sejam eles sólidos ou líquidos.

As colhedeiras mecânicas de cana são hoje equipamentos de vital importância para empresas localizadas em regiões com terrenos de topografia plana a suavemente ondulada. As restrições existentes para a queima de canaviais e as dificuldades para a contratação de mão-de-obra para a realização do serviço de colheita implicam que os terrenos sejam preparados e plantados com vistas à implantação da mecanização da colheita. A observação das condições restritivas para o plantio da cana, anteriormente mencionadas, faz com que a ocupação do terreno deva ser realizada visando atender às demandas impostas pelas colheitadeiras de cana. É sabido que os tempos despendidos com manobra em final de linha interfere sobremaneira sobre o rendimento do equipamento. Neste caso, o comprimento do sulco e a sua integridade poderão constituir em fatores significativos de ganho operacional para o equipamento.

As necessidades de executar os plantios com sulcos longos e contínuos conflitam com as limitações dos outros equipamentos, especialmente aqueles utilizados para a abertura de sulcos e para tratos culturais. Para amenizar estas limitações, normalmente são adotadas as preferências por estreitar as larguras dos talhões e promover a queima de dois talhões com comprimentos menores, posicionados em seqüência um do outro. Com este procedimento, consegue-se maximizar a produtividade dos equipamentos disponíveis para a colheita da cana.   

 

B)  A estrutura viária é a parte nevrálgica de um empreendimento sucroalcooleiro e constitui componente a parte importante da infra-estrutura por onde transita toda a comunicação e a movimentação de veículos para transporte de cargas e de pessoal para a realização de serviços, servindo desta forma para: (a) acompanhamento administrativo, assim como, (b) para a execução operacional das atividades necessárias para a condução do processo produtivo da cana-de-açúcar. Isto mostra o quanto é relevante o planejamento e a conservação das estradas e carreadores, pois em caso de negligência na realização destes dois trabalhos, a funcionalidade de toda estrutura de operação e administração poderá ficar comprometida, uma vez que os rendimentos não corresponderão ao esperado e fiscalização não será realizada dentro dos padrões produtivos estabelecidos, fundamentais para o sucesso do negócio.

     

a)      Acompanhamento administrativo: O volume de trabalho necessário para a produção de cana é muito grande, realizado por um grande contingente de recursos humanos e mecânicos que precisam ser transportadas para chegarem até o local de trabalho. A organização e operação deste contingente de recursos são acompanhadas e fiscalizadas por responsáveis (administradores e fiscais) que utilizam veículos motorizados para chegar até onde as ações se desenvolvem.

b)     Execução operacional: Por estas estradas e carreadores circulam máquinas e veículos com a finalidade trabalharem a terra para a produção da cana, de locomover pessoas para os locais de trabalho e realizarem o transporte da cana-de-açúcar.

Em toda esta movimentação de pessoas e insumos, o serviço que apresenta maior demanda de recursos é o transporte da colheita. Durante a colheita, são utilizados tratores, carregadeiras, caminhões e carretas para a retirada da cana do interior dos talhões, sendo em seguida transportada para a unidade de processamento (usina). Para realizar estas tarefas, os produtores têm procurado aumentar a carga líquida das composições, fato que tem sido possível em razão da intensa utilização veículos de grande porte, atrelados a um número variável de carretas. Estas composições transportam grandes quantidades de cana e como conseqüência natural estas configurações apresentam elevado peso bruto ao transitarem pelas estradas.

Assim, para circularem com desenvoltura, tais composições, necessitam de estradas bem construídas (foto 1.1.4.1.B.b.1.), com pistas de rolamento bem conservadas, além de traçado planejado que possa proporcionar um percurso seguro, livre de curvas muito fechadas e pontos de pouca visibilidade.

 

Foto 1.1.4.1.B.b.1.- Via principal de transporte em um empreendimento sucroalcooleiro.

 

Enfim, estas estradas precisam ser bem projetadas para garantirem bom desempenho da frota envolvida com o transporte da colheita.     

 

C) A própria forma de exploração da lavoura de cana-de-açúcar mostra a importância das estradas e carreadores na realização de grande parte das atividades praticadas na condução da lavoura. Para constatar isso, basta uma avaliação mais detida do elevado volume de recursos envolvido no processo de exploração desta cultura. Para ter-se uma idéia da magnitude destes valores tomemos apenas o transporte de cana em uma Usina com moagem de 1.500.000, distancia média de 20km (4okm para ida e volta) e viagens com cargas médias líquidas de 60ton por unidade de transporte. Nesta Empresa, apenas para transportar cana se percorreria cerca de 1.000.000 de quilômetros durante uma campanha de moagem (safra). Esta é, certamente, a principal razão para a orientação a ser adotada quanto à conservação desta infra-estrutura.

A conservação das estradas e carreadores tem início no momento de sua construção, quando devem ser adotados cuidados, que serão decisivos para a garantia de boas condições de trafego de máquinas e veículos, especialmente durante a colheita. E é exatamente em razão do intenso trânsito de veículos durante a colheita, que as estradas precisam ser construídas sem obstáculos, de modo a permitir que a velocidade possa ter maior constância e os danos aos veículos sejam minimizados. Assim, os cuidados com a conservação estarão voltados principalmente para que seja evitado o escorrimento das águas das chuvas no sentido longitudinal das mesmas. Para que isso ocorra, a pista de rolamento deve ser abaulada, com queda para as suas laterais, como forma de forçar o escorrimento da água para ali.

Uma vez escorrendo pelas laterais, esta água deverá ser escoada para dentro de áreas adjacentes, através de saídas laterais de água. Caso isso seja dificultado por algum tipo de acidente físico, estas laterais deverão ser reforçadas, ainda que de formas rústica, com algum tipo de material que evite a formação de erosão. Contudo, essas águas também deverão ser retiradas das laterais a intervalos, seja para áreas abertas adjacentes ou para cacimbas de armazenamento temporário.

Os procedimentos para manutenção das estradas e dos carreadores são praticamente os mesmos. Desta feita, na descrição dos procedimentos e cuidados para a sua execução será especificado a que se destina cada um deles. Dentre estes procedimentos constam: (a) preocupação para evitar a formação de barrancos, quando do aplainamento da superfície dos carreadores e das estradas, quando estas fazem divisa coma as áreas cultivadas com cana, (b) a construção de saídas d’água e (c) a construção de balanços, estes prioritariamente destinados aos carreadores e com alguma exceção para as estradas.   

a)     BARRANCOS:  As operações mecânicas de carregamento ou de corte mecânico e colheita mecânica são muito prejudicadas quando o limite entre o terreno onde se encontra a cana e o piso da estrada é definido pela presença de barrancos nas margens dos carreadores e estradas. Estes desníveis ocorrem nas margens das estradas e carreadores em conseqüência do trabalho das motoniveladoras, quando as mesmas realizam trabalhos de aplainamento das pistas de rolamento das estradas e dos carreadores. Na medida em que parte da superfície das estradas fica abaixo da superfície do canavial, fica mais difícil operar os equipamentos com a eficiência  desejada (foto 1.1.4.1.C.a.1.).

Os equipamentos utilizados para o corte mecânico ou para o carregamento da cana cortada manualmente são longos e a diferença para cima (elevação ou barranco) ou para baixo (depressão ou buraco) entre o piso da estrada e a superfície onde se encontram as plantas de cana, dificulta o nivelamento destes equipamentos. Estas inclinações para cima ou para baixo dos equipamentos promovem grandes perdas de cana nestes intervalos de oscilação, quando os equipamentos adentram a área plantada.

Quando esta ocorrência esta relacionada com a cana cortada manualmente, as perdas ocorrem na porção de colmos que ficam posicionados nas margens dos talhões, início das leiras de cana depositadas sobre o terreno. Por outro lado, quando as canas são colhidas mecanicamente, estas situações de elevações ou de barrancos fazem com que sejam perdidas as partes inferiores dos colmos (elevação) ou provocam um excesso de impurezas minerais na cana cortada na medida em faz com que o cortador de base enterre no solo.

 

Foto 1.1.4.1.C.a.1.-  Condições adequadas para a aplicação de colheitadeiras mecânicas e carregamento mecânico de canas cortadas manualmente.

 

Portanto, a presença de barrancos ou de erosões nas margens laterais dos carreadores e das estradas pode constituir um fator significativo de perdas (foto 1.1.4.1.C.a.2.).

 

Foto 1.1.4.1.C.a.2.- Situação não recomendada para margens de estradas e carreadores.

 

Seja para o caso do corte manual e carregamento mecânico ou para colheita mecânica, problema pode ser contornado com a retirada dos barrancos quando da confecção dos caminhos e posterior plantio da área ou em caso de depressões menores, entre 20 e 40cm, através do posicionamento dos montes ou início das leiras mais para o interior dos talhões ou com corte da cana perpendicular à linha de cana nas margens elevadas dos caminhos. Contudo quando se pretende realizar o corte mecânico, a única alternativa é evitar a formação de barrancos durante a operação de manutenção das estradas de forma geral (foto 1.1.4.1.C.a.3.).

 

Foto 1.1.4.1.C.a.3.- Situação recomendada para altura entre a altura da superfície com cana e as margens da estrada.

 

Para evitar que se formem barrancos nas laterais das estradas é necessário que primeiramente seja evitado o escorrimento de água das chuvas nas partes mais baixas das estradas, conduzida-as para o interior dos talhões através das saídas d’água e através da construção de balanços para evitar que a água adquira velocidade destrutiva na sua movimentação descendente pelas margens das estradas.

 

b)     SAÍDAS D’ÁGUA: Uma forma simples de evitar o escorrimento superficial das águas das chuvas não provoque danos aos caminhos e carreadores, ao escorrer pelas suas laterais, é fazer com que a água seja conduzida para o interior dos talhões, através de saídas d’água. Para isso elas devem ser construídas a distâncias regulares, de forma que elas reduzam a velocidade do fluxo de escorrimento superficial e conseqüentemente o poder erosivo da água das chuvas. Ao evitar que esta água escorra pelas laterais das estradas e carreadores, evita-se a formação barrancos nas zonas de contato com a área plantada com cana. Quando essas saídas d’água não obedecem a certas regras, elas podem se tornar sem efeito ou criar outros problemas mais sérios, como romper em graves erosões no interior dos talhões. Elas devem ser construídas com uma profundidade que facilite o escorrimento da água para dentro do talhão de cana, permitindo ao mesmo tempo, sulcar e plantar cana em seu interior. Para construir essas saídas d’água é necessário iniciá-la com uma declividade acentuada nos primeiros 10 a 15 metros e a partir daí ir reduzindo-a até tornar a pequena curva em nível, já pelo menos uns cinqüenta metros dentro do talhão. O seu formato assemelha-se a uma vírgula, com um início mais largo e acentuado, finalizando numa extremidade fina e voltada para a parte superior do terreno (foto 1.1.4.1.C.b.1.). A distância entre elas deve variar com a declividade do terreno. Assim quanto mais acidentado o terreno, mais próximas elas deverão ser construídas.

 

Foto 1.1.4.1.C.b.1.- Trabalho realizado com a motoniveladora para a construção de saídas d’água para o interior dos canaviais.

 

Para efeito de orientação elas podem ser construídas com 2 a 3 metros de diferença de nível vertical, entre os balanços, que atravessam as estradas e carreadores, conectando os terraços. Construídas fora das distâncias recomendadas e declividade que limite a recepção da água, essas saídas d’água deixam de atuar como esperado e podem trazer problemas para as estradas, como aqueles mostrados pelas fotos 3 e 4. Nelas podem ser observadas situações após chuvas de aproximadamente 100mm, assim como a forma como elas se comportaram. Nas saídas d’água onde a declividade não foi suficiente (foto 3), a água inicialmente conduzida para dentro da área voltou para dentro da estrada e provocou erosão em sua lateral. Quando a distância entre cada uma dessas saídas d’água foi muito grande também ocorreram pequenas erosões nas laterais das estradas (foto 4)

 

c)     BALANÇOS: A construção de balanços tem a finalidade de reter ou minimizar a velocidade das águas de escorrimento superficial, que se não forem retidas provocam danos às pistas de rolamento dos carreadores e das estradas em razão da velocidade inercial que adquirem, dependendo da declividade da estrada e da distancia entre um terraço e outro (foto 1.1.4.1.C.a.3.).

 

Foto 1.1.4.1.C.a.3.- Balanços construídos no sentido transversal do declive do terreno para minimizar o efeito das águas das chuvas.

 

Ao serem construírem, estas estruturas de contenção pode utilizar a terra necessária para a elevação destes balanços do próprio local ou retirarem terra de outros locais.

O transporte de solos de outros locais dá-se quando da falta de material no próprio local ou o solo do local não aceita a compactação necessária para que o balanço se torne uma estrutura com maior tempo de permanência.

Este é um trabalho necessário quando o terreno onde se está implantando canaviais é muito arenoso e não consegue manter a elevação do balanço na altura do nível superior (crista) do terraço (foto 1.1.4.1.C.a.3.).

 

 

 

1.1.4.2. Terraceamento 1.1.a

 

A certeza de que solos mal tratados podem perder irreversivelmente as suas capacidades produtivas, levam os agricultores a procurar minimizar eventuais danos que possam ser impingidos aos solos agrícolas pela falta de cuidados agronômicos em sua utilização para a produção agrícola.

Assim, para manter as propriedades físicas e químicas dos solos o mais próximo possível da originalmente existente, procura-se adotar durante a utilização agrícola dos mesmos, práticas conservacionistas que reduzam os danos por erosão em suas superfícies, através da construção de diferentes tipos terraços.

Os cuidados visando à conservação do solo variam conforme o comportamento do relevo do local, onde se realiza o cultivo da cana. As áreas um pouco mais acidentadas são aquelas que demandam os maiores cuidados com o controle da erosão, especialmente durante a realização das operações de plantio. É nestes momentos, que as estruturas os terrenos estão mais frágeis, pois é quando se promove uma maior movimentação do solo para a execução das operações necessárias para a realização dessa atividade.

A construção destes terraços tem a finalidade de minimizar os efeitos danosos das águas das chuvas escorrendo sem controle sobre a superfície dos terrenos preparados para o plantio (foto 1.1.4.2.a.).

O terraceamento toma apenas uma parcela do tempo durante a preparação do solo. Portanto,  nessas áreas, quando o solo apresenta-se com menor nível de agregação, é recomendado que este trabalho de conservação do solo, via terraceamento, seja complementado com o plantio de uma leguminosa, como cultura de cobertura (foto 1.1.4.2.b.), especialmente antes da realização do plantio e depois de realizado o trabalho de terraceamento.

 

1.1.4.2.1. Tipos de Construção de Terraços

 

A construção de terraços para a cultura da cana-de-açúcar, tendo como foco principal, a implantação da colheita mecanizada segue orientação para um modelo denominado embutido, de forma que o posicionamento dos sulcos de plantio se ajuste às necessidades da colhedora (foto 1.1.4.2.1.a.).

 

Foto 1.1.4.2.a.- Erosão observada em solo solto, recém preparado.

Foto 1.1.4.2.b.- Cobertura do solo com a cultura de leguminosa.

 

Independentemente do tipo ou modelo de terraço adotado para servir como alternativa para reduzir os efeitos danosos da água de escorrimento superficial, a verdade é que eles não mantêm indefinidamente as suas conformações originais (foto 1.1.4.2.1.b.).

 

Foto 1.1.4.2.1.a.- Conformação de um terraço do modelo embutido recém construído.

Foto 1.1.4.2.1.b.- Conformação de um terraço depois de anos com o cultivo da cana.

 

1.1.4.2.2. Equipamentos Utilizados para a Construção dos Terraços

 

Esses terraços embutidos, como o próprio nome diz, ficam   um pouco abaixo da linha de superfície do terreno e, desta forma, mais resistentes aos impactos erodíveis das águas das chuvas. Para serem construídos exigem um significativa movimentação de solo, o que pode ser realizado com os mais diferentes tipos de equipamentos. Os mais freqüentemente aplicados são alguns tipos de terraceadores dedicados, isto é, servem especificamente para este fim e tratores de esteiras (foto 1.1.4.2.2.a.). Entretanto, qualquer equipamento que seja eficiente na movimentação de terra pode ser utilizado, dentre eles as pás-carregadeiras, as retro-escavadeiras, etc.

O inconveniente deste tipo de terraço está no fato de que ara Considerando este fato, é prudente que depois de realizado o trabalho de construí-lo uma faixa de aproximadamente 20 a 30 metros tem a sua camada superficial raspada para que a elevação seja obtida. Isto significa que uma camada de elevada fertilidade é conduzida para a parte elevada e esta parte do terreno fica com a fertilidade do subsolo.

Considerando este fato, é prudente que depois de realizado o trabalho de construção do terraço, este local raspado receba algum tipo de suplemento de matéria orgânica para recuperar em parte a fertilidade perdida. A torta de filtro, pode utilizada para esta finalidade, podendo ser aplicada em superfície ou nos sulcos de plantio, localizados nesta área raspada.

 

Foto 1.1.4.2.2.a.- Construção de terraços para auxiliar na contenção da água em áreas cultivadas com cana.

 

A estrutura que conecta as pontas destes terraços quando estas encontram as estradas ou carreadores que dividem os talhões e setores são denominadas de balanços. Retornando a este item pode-se observar estas conexões na foto 1.1.4.1.C.a.3..

A conservação do solo é um conjunto de muitas ações que associadas trazem resultados positivos para a exploração agrícola. A construção de terraço é uma parte importante desta ação, que pode compartilhar os efeitos decorrentes da abertura dos sulcos, quando estes são abertos através de sulcadores, em profundidades de até (0,35m) e são executados em nível. Nestas condições eles podem funcionar como canais de retenção e contribuem para minimizar os efeitos das águas das chuvas, reduzindo possíveis danos ao solo (Foto 1.1.4.2.2.b.). Contudo, dependendo da orientação técnica segui pela empresa agrícola, a sulcação pode ser feita mais rasa e a cobertura das sementes promover o nivelamento da superfície do terreno. Com este procedimento, essas linhas de retenção deixam de existir e a água das chuvas pode escorrer com maior facilidade e provocar danos mais significativos. Por outro lado, quando o plantio é realizado com máquinas esta ondulação provocada pela abertura do sulco pode ficar menos expressiva.

 

Foto 1.1.4.2.2.b.- Sulcos de plantio como alternativa auxiliar para a conservação de solo.

 

É fato que a capacidade de infiltração de água em solos adequadamente preparados é muito grande, razão pela qual, apesar das pesadas chuvas, as perdas de solo não chegam a comprometer definitivamente a prática agronômica. Entretanto, esta capacidade é limitada e chuvas continuadas podem saturar os solos e possibilitar a ocorrência de danos às áreas já que estejam plantadas. Essas são fortes razões para que a prática da conservação seja sempre uma associação do maior números de alternativas para conseguir-se sucesso com esta prática.

Se os sulcos profundos são interessantes para auxiliar no controle da erosão, não se pode negar que o nivelamento do solo durante a cobertura da semente pode facilitar o trabalho da colheita, quando esta é realizada mecanicamente. Terraços e sulcos profundos apresentam certa incompatibilidade operacional com a colheita mecânica. Assim, para que os danos decorrentes da ausência destas estruturas possam ser minimizados é preciso buscar alternativas que contemplem tanto o controle da erosão como as facilidades para as operações mecanizadas da colheita.

 

1.1.5. Subsolagem (1.5. na figura 1.1.a)

 

Na procura das melhores condições para o desenvolvimento radicular da cana-de-açúcar detecta-se com freqüência que a compactação é um dos principais fatores limitantes à produtividade. A compactação do subsolo pode ter origem natural ou artificial. A origem natural pode ser resultante da ação química dos óxidos de ferro e alumínio ou de processos específicos da gênese do solo. A compactação causada artificialmente pode ser um fenômeno resultante de ações mecânicas, proveniente do uso de máquinas e veículos. Estes equipamentos são aqueles utilizados para o próprio preparo de solo, para a colheita mecânica da cana, para o transporte da produção e para os tratos culturais da cana planta e das socarias.

O uso da subsolagem tem como finalidade principal romper as camadas compactadas, encontradas abaixo da camada trabalhada com arados e grades. Ao romper a camada compactada, a subsolagem facilita a infiltração de água para as camadas mais profundas do solo, recompõe a porosidade do solo e facilita o crescimento das raízes. Uma parte importante desta porosidade refere-se á macroporisidade. Os macroporos são os espaços maiores encontrados entre as partículas minerais e orgânicas, cujos volumes permitem a livre infiltração da água e do ar, elementos essenciais para as atividades fisiológicas das próprias raízes. Esses processos são significativamente prejudicados quando os solos tornam-se adensados e aparece a predominância de microporos. Guardadas as diferentes características dos solos, estima-se que as condições físicas do solo sejam favoráveis para as funções do sistema radicular, quando a macroporosidade apresentar-se entre 15 a 25% maior que a microporosidade.

Quando a camada compactada é rompida o desenvolvimento do sistema radicular é expressivo, havendo significativo o volume de raízes crescendo além da profundidade de 40cm. Ultrapassando esta profundidade as raízes podem posicionar-se mais próximas das camadas mais úmidas do perfil do solo.  O volume de raízes é uma característica intrínseca de cada variedade de cana-de-açúcar, mas regra geral, entre 70 a 80% das raízes de uma planta adulta de cana de açúcar concentra-se num volume de solo compreendido na profundidade de 40 a 50cm e na largura de aproximadamente 60cm (incluída a linha de cana) (tabela 1.1.5.a.). Isto é verdadeiro quando nenhuma barreira de ordem química atua na limitação do crescimento radicular. Caso contrário, grande parte do sistema radicular fica confinada a profundidades de até 30cm, muitas vezes como se estivesse confinado num um vaso formado pela geometria do sulcador.

 

Tabela 1.1.5.a.- Distribuição das raízes da cana no perfil do solo.

Profundidade

% de raízes  Ano 1

% de raízes  Ano 2

 

Média

Geral

 

 

Crua

Queimada

Crua

Queimada

0-20

51

46

45

42

46

20-40

25

26

25

26

25

40-60

11

12

11

12

12

60-80

8

9

8

9

8

80-100

6

7

6

7

7

Fonte: Scientia Agrícola, v.57, n.4, p.653-659, out./dez. 2000.

 

A formação deficiente do sistema radicular das plantas é prejudicial para o desenvolvimento da cultura instalada, interferindo diretamente sobre a produtividade, quando as plantas são submetidas à desidratação em épocas de estiagem prolongada. Uma planta com limitações na absorção de água, também fica submetida a restrições na absorção de nutrientes. No caso da cana-de-açúcar, estas limitações interferem direta e intensamente sobre o tamanho da planta (crescimento). A brotação do rizoma (perfilhamento) também pode sofrer interferência da umidade do solo. Quando a umidade for baixa o nascimento ficará prejudicado. Entretanto, sob condições climáticas favoráveis o canavial poderá apresentar uma hiper propagação, com intenso nascimento dos brotos. Contudo, independentemente da maior ou menor intensidade de nascimento a produtividade poderá estar comprometida em razão das restrições ao crescimento radicular imposta ao crescimento do sistema radicular.

O rompimento mecânico destas camadas de impedimento pode ser feito utilizando-se arados e subsoladores. Caso a camada compactada encontre-se até a profundidade de 30 a 40cm, a aração poderá eliminar o adensamento, tornando o solo mais solto. A aplicação de arados de disco ou de aiveca para descompactar camadas com adensamento na profundidade anteriormente mencionada, pode proporcionar um efeito adicional às condições do terreno. Ao inverter as camadas de solo, trazendo para a superfície solos com menor fertilidade e depositando no subsolo a camada com maior fertilidade, promove a expansão da camada com melhores condições para o desenvolvimento do sistema radicular.

Contudo, se a camada adensada estiver abaixo de 30cm, apenas os subsoladores conseguem romper esta zonas de impedimento. Neste caso, atuam sem alterar o posicionamento das camadas do solo. O uso da subsolagem possibilita romper as camadas compactadas do solo, permitindo maior incremento nas taxas de infiltração da água das chuvas. Aumentando a capacidade de retenção de água torna possível minimizar os efeitos nocivos do escorrimento da água das chuvas sobre as superfícies dos terrenos cultivados.

A subsolagem e a aração podem ser realizadas juntas ou separadamente, dependendo do posicionamento da camada de compactação ou da direção que se pretenda dar ao preparo de solo. Quando realizadas separadamente, observa-se que as mesmas se equivalem no que tange aos seus efeitos sobre a produtividade de cana-de-açúcar (quadro 1.1.5.b.).

 

Tabela 1.1.5. b. – Produtividade agrícola obtida em cana de ano e meio, com a finalidade de avaliar diferentes procedimentos para o preparo de solo convencional.

Tratamentos

Produtividade (t/ha)

Uma aração a 45cm de profundidade

111,0

Duas passadas com grades pesadas

100,0

Uma subsolagem (subsolador de hastes lisas)

88,0

Uma subsolagem (subsolador alado)

105,0

Fonte: Relatório Anual do Planalsucar, 1980.     

 

Não obstante, o custo para a realização da aração seja costumeiramente mais elevado, ainda que ela possa apresentar os benefícios adicionais anteriormente relatados.

Pelo fato de ser um sintoma interno do solo e provocado de forma artificial em função de seu intenso uso agrícola, a compactação não pode ser evidenciada através de observações visuais de forma direta no terreno. Eventualmente e dependendo das condições de crescimento das plantas pode-se especular algum tipo restrição ao crescimento provocado por tais deformidades dos agregados do solo. De forma efetiva, a compactação pode ser verificada e medida utilizando-se trincheiras para observações visuais diretas no perfil do solo, efetuando-se medidas de densidade aparente ou utilizando-se equipamentos para a obtenção medidas indiretas através de penetrômetros ou penetrógrafos.  

 

1.1.5.1. Avaliação da Compactação dos Solos

 

A avaliação da compactação de um solo pode ser realizada utilizando-se de observações visuais no perfil do solo, utilizando-se trincheiras ou através de instrumentos que possibilitem observações referenciais a partir da superfície do terreno.

Nas observações referenciadas são utilizados instrumentos que permitem identificar as zonas com maior dureza nos solos, determinando-se o posicionamento destas camadas e medindo a sua dureza. Essas medidas são realizadas através da penetração no solo, de hastes acopladas a instrumentos específicos que permitem obter tais determinações de dureza. Estes aparelhos são denominados penetrômetros (quando as medidas são tomadas diretamente) ou penetrógrafos  (quando as medidas são expressas diretamente em forma de gráficos). Nas duas modalidades de aparelho a solução final será a obtenção de gráficos que mostram a posição das camadas com maior adensamento. Este adensamento pode ser caracterizado como compactação, fruto da utilização intensa de máquinas e veículos nos canaviais, ou de impedimento, conseqüência do uso implementos como grades e principalmente arados, que promovem a formação do efeito “soleira de arado”.

Quando se deseja obter dados através de observações diretas sobre o perfil do solo, as observações e medidas são tomadas diretamente nas paredes formadas ao cavar as trincheiras.

Para terem utilidade, estas medidas e observações precisam estar associadas a observações de campo, onde possam ficar evidentes que os dados obtidos podem, efetivamente, interferir sobre o comportamento da planta, comprometendo a sua produtividade. Neste caso, toma-se como referência mesmos tipos de solos, em condições topográficas similares, que ainda não tenham sido utilizados para a agricultura (solos sob vegetação natural) e cujas medidas são adotadas como padrão. Todas as medidas realizadas nos locais com agricultura são referenciadas a esses padrões naturais. Para avaliar a efetividade do adensamento constatado, quando as avaliações forem escassas, é prudente que sejam conduzidos experimentos para avaliar a interferência da compactação observada. Nestes experimentos são combinadas diferentes composições de operações, tendo como objetivo verificar quais são as mais efetivas sobre a produtividade de cana-de-açúcar.      

 

1.1.5.1.1. Obtenção de dados no campo

 

 A seqüência de procedimentos para avaliar a dureza do solo à penetração e a contrapartida para a sua ruptura é um encadeamento de ações que são utilizadas no processo decisório para a utilização ou não da operação de subsolagem (figura 1.1.5.1.1.a.).  As medidas para a identificação das áreas de maior dureza no perfil do solo podem ser obtidas através de equipamentos que são introduzidos no solo a partir da superfície.

Os equipamentos para a realização destas medidas podem ser encontrados em diversos padrões e com diferentes graus de sofisticação tecnológica. Contudo, podem ser separados em duas categorias:

Ø      Aqueles que são forçados para o interior do solo a partir da superfície utilizando uma certa fonte de carga para a sua pressão (penetrografos) e retornam como respostas dados em forma de números  (digital ou analógico) ou mais comumente na forma de gráficos (normalmente digitais);

Ø      E aqueles que utilizam princípios físicos como os penetrometros de impacto. São equipamentos mais simples e estão  estruturados para medirem a força necessária para a penetração no corpo do solo de forma indireta.

 

Figura 1.1.5.1.1.a.- Procedimento para a definição das necessidades de realização de subsolagem para a correção da porosidade do solo.

 

Os penetrometros de impacto, cuja medida, em princípio,  é dada pelo número de impactos, com um peso de 8 (oito) quilos, com curso fixo que é necessário, para atravessar as camadas com diferentes níveis de dureza no sentido da profundidade do solo avaliada.

A posse destes valores de impacto possibilita transformá-los em um gráfico (1.1.5.1.1.b.) que permite identificar a posição das camadas do solo com maiores dificuldades para serem rompidas e as eventuais demandas de força para fazê-lo. A partir dos dados obtidos são elaborados gráficos que facilitam a visualização dos pontos com maior dureza.

É interessante notar que nas determinações das camadas com maiores níveis de adensamento ou compactação os  valores com maiores intensidades são encontrados com maiores freqüências entre as profundidades de 0 a 35 ou 45cm, dificilmente superando este nível de profundidade.

 

Figura 1.1.5.1.1.b.- Gráfico mostrando intensidades e profundidades de compactação obtido a partir das medidas de campo.

 

Estes penetrômetros (foto 1.1.5.1.1.c.) são muito simples para serem operados e muito objetivos na obtenção da informação. Os equipamentos mais sofisticados emitem diretamente um gráfico na medida em que são introduzidos no solo.

 

Foto 1.1.5.1.1.c. – Penetrômetro, modelo Planalsucar, em posição de operação.

 

São os penetrógrafos. Tais como os gráficos obtidos indiretamente pelo equipamento de impacto, os gráficos obtidos aqui terão a mesma finalidade: visualizar as camadas com maiores níveis de  compactação e definir quais os procedimentos a serem adotados com relação à subsolagem durante o preparo de solo.

Estes dois procedimentos de medida apresentam a vantagem de reduzir o número de trincheiras abertas nos campos, ainda que seja necessário o apoio de observações diretas no terreno para validá-los. Contudo, permite rapidez na coleta e processamento dos dados e facilita o acompanhamento das operações agrícolas durante o preparo de solo. 

 

1.1.5.1.2. Características dos Subsoladores

 

Os subsoladores são implementos montados em barras porta ferramentas ou em chassis, tendo como elementos ativos hastes e pontas, que atuam para romper as camadas compactadas do solo ou para prover drenagem interna de solos alagados com texturas argilosas. (figura 1.1.5.1.2.a). No caso as figura citada, o equipamento pode servir para restabelecer as condições de aeração do solo quando utilizado sem a estrutura localizada para parte distal traseira da haste. Quando a estrutura presa na parte traseira é preza ao equipamento ele serve mais especificamente para criar tubos condutores de água em excesso encontrada em solos encharcados de baixadas. Nos dois tipos de aplicação, a operação de subsolagem tem como finalidade criar condições para o desenvolvimento das raízes, facilitar a absorção da água e de melhorar a aeração do solo.

 

 

Figura 1.1.5.1.2.a. - Vista esquemática de equipamento utilizado na subsolagem 

 

Os subsoladores podem ser encontrados em dois tipos:

 

a)      Modelos estruturados em chassis, suportados por pneus e tracionados através de um cabeçalho engatado na barra de tração do trator (especialmente os tratores de esteira); e,

b)     Modelos acoplados ao corpo do trator, através de uma barra porta ferramenta conectada aos braços hidráulicos dos tratores e ao terceiro ponto. 

 

As hastes são os principais elementos ativos de um subsolador e podem apresentar diferentes formas geométricas. Elas são construídas com configurações diversas, apresentando diferentes distribuições de forças e exigências de potência para a tração do equipamento, conforme descrito a seguir:

 

1-         Retas, (A1) com ângulo de ataque vertical (igual a 90o) (exige maior força de tração) ou inclinada (A2) com ângulo de ataque inclinado (igual a 45o) e porteira inclinada (figura 1.1.5.1.2.1.a). O efeito do trabalho quando a ponta é aletada parece ser mais eficaz no revolvimento do solo;

 

 (A1)

 

 

(A2)

Hastes Retas

igual a 90o

 

 

 

Figura 1.1.5.1.2.1.a. - Tipos de hastes retas e respectivas aplicações no campo.

 

2-   Curvas (B): com ângulo de ataque igual a 45o (figura 1.1.5.1.2.1.b) e (possui maior desempenho de penetração e exige menor força de tração)

 

 (B)

Figura 1.1.5.1.2.1.b. – Tipos intermediários de hastes.

 

3-    Parabólica (C): com ângulo igual a 15 – 25o (possui melhor desempenho a penetração no solo).

 

 

 (C)

Figura 1.1.5.1.2.1.c – Tipos de hastes mais comumente utilizadas equipando subsoladores.

 

Os implementos providos de hastes parabólicas são constituídos por  chassis equipados com conjuntos de pneus que deveriam ser utilizados para o seu transporte. Entretanto, acabam servindo para o controle da profundidade de trabalho. Teoricamente, as hastes parabólicas deveriam, através de regulagem do ângulo de ataque ao solo fixar a profundidade de trabalho, contudo, para garantir a profundidade indicada de trabalho são utilizadas as rodas destinadas ao transporte do implemento. Algumas vezes os implementos vêem equipados com rodas de ferro para o controle da profundidade de trabalho. Neste caso, elas conseguem manter uniforme a profundidade de trabalho quando os equipamentos estão acoplados ao hidráulico dos tratores. Como acessórios pode-se utilizar um disco cortador de restos vegetais, em terrenos sujos ou recém desbravados, auxiliando o corte do material mais próximo à superfície evitando o embuchamento.

 

1.1.5.1.3. Procedimentos para a sua Regulagem

 

Os subsoladores possuem regulagens específicas dependendo do modelo que é empregado para a realização do trabalho. Entretanto, no que tange à operação, o que importa são as definições referentes basicamente à profundidade de trabalho e o espaçamento entre hastes. A profundidade de trabalho deve ser aquela que atue sobre a camada onde se encontra mais acentuado o adensamento mecânico do solo. Normalmente estas camadas são encontradas a profundidades entre 0 e 60cm. A profundidade de trabalho deverá ser fixada em aproximadamente 10 além da camada definida como compactada através do equipamento utilizada para determiná-la. A profundidade de trabalho pode ser utilizada para a definição do espaçamento entre as hastes e o número de hastes dera função da potencia da máquina disponível para o trabalho.

Em subsoladores desprovidos de aletas nas pontas, a relação entre o espaçamento das hastes e a profundidade de trabalho (R{esp-prof}) poderá ser de 1,0 (um), conforme ilustrado a seguir:

 

 

Quando os subsoladores são providos de aletas (ver tipos de hastes subsoladoras) nas pontas esta  mesma relação pode assumir valor de = 1,5.

 

1.1.5.1.4. Potência Necessária para tracionar o implemento.

 

As formas de calcular as demandas de potencias são muitas, resultando cada uma delas em valores muito próximos uns dos outros. Pelo fato de trabalharem a profundidades que podem chegar até 0,8 m, os subsoladores, são implementos que requerem alta potência para sua utilização.

Na literatura são encontradas sugestões para o calcula de demandas de potências para cada extrato de profundidade do solo atingido por haste de subsolador, para três diferentes tipos ou condições de solos. Através desta informação é possível determinar demanda de força, a intervalos de 1mm, os esforços necessários para a tração do implemento, considerando uma haste para efeito de cálculo equipamento (Santos Filho, 2001).

Assim, para solo arenoso: 1,7 a 2,2 kg por mm de profundidade; solo solto: 2,2 a 2,7 kg por mm de profundidade e para solo duro: 2,7 a 3,2 kg por mm de profundidade.

Com base nos resultados da multiplicação da demanda pela profundidade de trabalho pode chegar à exigência de tração de uma haste de subsolador (quadro 1.1.5.1.4.a.). 

 

Quadro 1.1.5.1.4.a. – Estimativa das exigências de tração para a tração de uma haste subsoladora.

Fonte: Santos Filho - UNESP / Bauru – Dept de Engenharia Mecânica - Agosto /2001.

 

Um trator pode ter a sua  demanda de potência estimada para a tração de um subsolador, utilizando-se a relação defina a seguir, onde se pode determinar a potencia para cada uma das hastes de um equipamento:    

 

 

A variável com maior implicação na demanda de potencia (hp) para a tração de uma haste é a velocidade com opera o conjunto trator / subsolador. Considerando uma mesma profundidade de trabalho e uma mesma demanda de força ou exigência de tração para a tração do implemento, a demanda de potencia crescerá de forma exponencial  na medida em que a velocidade aumentar (figura 1.1.5.1.4.b.).

 

1.1.6. Aração (1.6. na figura 1.1.a)

 

Em algumas oportunidades, uma mobilização mais intensa do solo pode ser necessária, procurando com isto revolver o solo de forma que as camadas superiores seja trocadas com as inferiores em uma inversão de posições. Desta forma, lavrar o solo em maior profundidade, pode ser uma alternativa para melhorar as condições físicas do terreno e eventualmente algumas de suas características químicas durante a sua preparação, antes do plantio da cultura.

Quando esta alternativa é indicada, deve-se acrescentar a aração ao grupo de operações indicadas para preparação do solo. Diferentemente das grades, cuja profundidade máxima atingida chega  até 20 a 25cm, a aração pode atuar em maior profundidade, podendo chegar até 35cm de profundidade.

 

Figura 1.1.5.1.4.b. – Demanda de potência em razão da velocidade operacional.

 

A aração é a mais antiga das operações agrícolas utilizadas para o preparo periódico do solo, qualquer que seja a cultura a ser cultivada. Nela a camada superficial do solo é cortada em fatias, denominadas leivas. Ao receberem o movimento contorcional imprimido pela curvatura dos instrumentos de corte (disco ou aiveca) estas leivas são invertidas, de maneira que a parte superior fique voltada para baixo, expondo assim a sua parte inferior (figura 1.1.6.1.a.).

Com este movimento o arado corta, eleva, esborroa e inverte a camada de solo. Esta inversão das camadas do solo possibilita a incorporação do material orgânico existente na superfície, criando condições para a sua decomposição e transformação em matéria orgânica.

Neste processo são criadas condições que  proporcionam melhores condições para o crescimento, nutrição e desenvolvimento das plantas em geral.

Esse revolvimento do solo através da aração também pode descompactar terrenos, onde as camadas com adensamento sejam superficiais, com profundidade entre 20 e 35cm, situação confortável para a operação do arado.

Contudo, a aração mantém a necessidade do uso anterior de uma subsolagem para que o uso do arado não provoque o aparecimento de uma camada de impedimento endurecida, denominada “soleira de arado”.

 

Figura 1.1.6.1.a – Atuação dos equipamentos (arados) no solo.

 

Esta camada endurecida aparece em decorrência da sedimentação de partículas finas do solo, eluviadas da camada de solo solto. Estas partículas param na interface da parte revolvida com o solo estabilizado, solidificam e passam a impedir o fluxo descendente da água.  Daí a importância da subsolagem antes da aração, para romper e mobilizar o solo em uma profundidade superior àquela atingida pelo arado.  

                          

1.1.6.1. Equipamentos para a Aplicação

 

Os arados são mais antigos implementos agrícolas utilizados na agricultura. Na sua origem utilizou a tração humana, evoluindo posteriormente para tração animal e com o advento da força motor passou a ser tracionado por máquinas. A gama de tipos de arados disponíveis no mercado é muito grande, podendo ser acoplados às máquinas (tratores) de através do terceiro ponto ou da barra de tração (arado de arrasto).

Contudo, quaisquer que sejam os tipos de tração utilizados, ele terão como elemento ativo discos ou aivecas (figura 1.1.6.1.a.).

 

Figura 1.1.6.1.a – Principais tipos de arados (disco e aiveca).

 

 

1.1.7. Acabamento (1.7. na figura 1.1.a)

 

Na seqüência operacional do preparo de solo convencional, após a subsolagem ou se realizada, a aração, recomenda-se a realização de operações de acabamento (destorroamento e nivelamento) para reduzir o tamanho dos agregados (blocos) deixados após a escarificação para a descompactação do solo ou depois da aração. Dependendo do tipo de solo e do tamanho dos agregados podem ser realizadas operações de gradagem pesada ou de uma gradagem intermediaria, seguida sempre de gradagem leve para o nivelamento da superfície do solo.

 

1.1.7.1. Gradagem Pesada (1.7.1. na figura 1.1.a)

 

Esta mesma operação deve ser novamente realizada na fase final do preparo convencional do solo (1.7.1. no fluxo da fig.1.1.a) com a finalidade reduzir prioritariamente o tamanho dos blocos deixados pelas operações anteriores (construção de terraços, subsolagem e aração, se houver) e incorporar eventuais restos culturais que ainda permaneçam na superfície do terreno.  Nesta fase do preparo de solo e dependendo das condições do terreno (textura e umidade do solo) podem-se utilizar grades intermediárias para a realização do trabalho, pois apesar de mais leves que as grades pesadas, podem fazer um bom trabalho de redução do tamanho dos torrões deixados pelas operações anteriormente realizadas. A sua utilização pode tornar o trabalho menos custoso, pois as grades intermediárias possibilitam realizar o trabalho com maior agilidade e rapidez, sem comprometer a qualidade do preparo do solo.

 

1.1.7.2. Gradagem Leve (1.7.2. na figura 1.1.a)

 

Quando utilizada complementando a segunda gradagem pesada (1.7.2. no fluxo da fig.1.1.a) tem a finalidade de destorroar o solo deixando a superfície nivelada para a realização da sulcagem. Nesta fase do preparo de solo esta operação também tem como objetivo reduzir o tamanho dos torrões deixados pela operação de gradagem pesada. Entretanto, a gradagem leve, não atua apenas para melhorar as condições estruturais do solo para facilitar a germinação das mudas de cana (sementes). Ela também exerce um efeito de grande importância, como auxiliar na ação dos herbicidas utilizados no de controle das plantas daninhas.

Para que a operação seja eficiente no auxilio aos produtos herbicidas ela precisa ser realizada no máximo um ou dois dias antes da realização da operação de sulcagem. Isso se justifica porque as sementes, especialmente as das gramíneas, quando germinam emitem seus primórdios radiculares no sentido da profundidade do solo e depois de uma ou duas semanas os produtos de absorção radicular não conseguem mais ter o efeito esperado para o controle das plantas daninhas. Depois de passado este tempo as raízes saem do raio de ação dos produtos herbicidas e as plantas daninhas vegetam sema limitações. 

Assim, quanto mais próxima da sulcagem esta operação for realizada, melhor será o seu efeito sobre a redução do potencial infestante das plantas daninhas. Ao revolver o solo na profundidade de até 15 cm, o implemento destrói todas a plantas já nascidas e deixando no solo apenas as sementes por germinar. Neste caso, a eficiência dos herbicidas que tenham atuação em pré-emergência terá maior intensidade, pois o produto poderá atuar sobre as sementes no momento em que iniciarem a emissão dos primórdios radiculares. 

TRABALHOS UTILIZADOS COMO REFERÊNCIA

 

Os trabalhos citados estão disponíveis na sua forma original, seguindo a seqüência dos tópicos onde foram utilizados.

 

1. Preparo do Solo

 

 

1.1. Desmatamento e Limpeza do Terreno

 

 

1.2. Aplicação de Calcário

 

 

1.3. Erradicação de Culturas

 

1.3.1. Erradicação Química das Culturas

 

1.3.2. Erradicação Mecânica das Culturas

 

 

1.4. Conservação de Solos – Estradas e Terraços

 

 

1.5. Subsolagem

 

·         Subsolagem: uma operação vantajosa no preparo do solo para o plantio. - José Fernandes - Revista de Mecanização Rural, Ano 1, n.6 – abril, 1981 – p. 22-27, São Paulo / SP – Brasil (PrepSol_03a)

·         A compactação do solo e a brotação das soqueiras. - J. Fernandes; T. C. Ripoli; M. Millan - Revista Álcool e Açúcar, Ano 3,  nº. 12, pg. 12-17, setembro – outubro de 1983 – São Paulo – SP. (PrepSol_05a)

·         Subsolagem em soqueiras de cana-de-açúcar. - Antônio Mário Leitão Medeiros; Luiz Carlos Miller;  Luiz Carlos Lacerda Rezende; Adilson José Rossetto & Rubismar Stolf. - Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro, 106(4) 1988. (TratCult_01a)

·         Compactação artificial em solos. Experiências e dados informativos. - J. T. Coleti & J. L. I. Demattê,  Revista Álcool &Açúcar - Ano 2 , set / out. -1982, pág. 34-39, São Paulo – SP. (PrepSol07a)

·         Penetrômetro de impacto - modelo IAA-Planalsucar – STOLF (Recomendação para seu uso) - Rubismar STOLF; José FERNÁNDES: Victório FURLANI NETO - Revista da STAB – 1 (3), 18-23 Janeiro – Fevereiro 1983 – Piracicaba / SP.

·         Operação do penetrômetro de impacto - MODELO IAA / PLANALSUCAR Stolf - Rubismar STOLF - Boletim especial da SERIE PENETRÕMETRO DE IMPACTO — BOLETIM Nº. 2 — PLANALSUCAR – 1984 – Piracicaba/ SP.

 

1.6. Aração

 

·         O uso do arado de discos no preparo do solo para culturas anuais. - Gastão Moraes da Silveira, Revista de Mecanização Rural, Ano 1, nº. 6 - pg. 12-18, 1981 - São Paulo / SP. (PrepSol_08a)

·         Aa

 

 

 

 

 

 

 

 

(1) Engenheiro agrônomo, formado pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, atualmente UNESP, campus de Botucatu, em 1973.